Em 2018, a Amazon anunciou planos para instalar parte de sua segunda sede — o projeto HQ2 — em Long Island City, no Queens, prometendo 25 mil empregos e bilhões em investimento. Seria a consolidação da presença da big tech no coração da maior metrópole americana.
Mas nem tudo correu como previsto. Em poucas semanas, o projeto se transformou em um campo de batalha político, urbano e social. O que parecia uma oportunidade virou símbolo de uma nova tensão: a do conflito entre tecnologia, gentrificação e poder popular.
Incentivos bilionários e reação da comunidade
O governo do estado de Nova York ofereceu cerca de US$ 3 bilhões em incentivos fiscais para atrair a gigante. Os defensores do acordo argumentavam que o retorno econômico compensaria o investimento, mas grupos comunitários e ativistas rapidamente reagiram.
O ponto central da crítica era a falta de transparência e o uso de recursos públicos para subsidiar uma empresa avaliada em mais de um trilhão de dólares. O bairro escolhido, Long Island City, vinha passando por um processo de valorização, e a chegada da Amazon foi interpretada como um gatilho para aceleração da gentrificação e do deslocamento de moradores de baixa renda.
O impacto no cotidiano urbano: transporte, moradia e comércio local
Moradores do Queens temiam que a chegada da empresa agravasse problemas já existentes: superlotação do metrô, aumento nos preços dos aluguéis e expulsão de pequenos comércios. O episódio fez acender o debate sobre o papel das grandes empresas na dinâmica econômica e social das cidades.
Em 2019, a CBS News reportou que 73% dos nova-iorquinos aprovavam o projeto, mas esse apoio não era homogêneo. Na vizinhança diretamente afetada, o sentimento era de desconfiança e resistência.
A força da política local: quando a base freia os gigantes
A deputada Alexandria Ocasio-Cortez tornou-se um dos rostos mais visíveis da oposição, denunciando o processo como antidemocrático e excludente. Em vez de empregos garantidos, segundo ela, o acordo entregaria poder demais à Amazon em troca de promessas frágeis.
Sua atuação, somada à pressão de sindicatos, lideranças comunitárias e urbanistas, criou um movimento de base forte o suficiente para fazer a gigante recuar.
A retirada da Amazon: recuo ou estratégia?
Em fevereiro de 2019, a Amazon cancelou oficialmente o plano, alegando que “muitos políticos locais não apoiavam mais o projeto”. A reação foi dividida: uns viram como vitória da cidadania ativa, outros como oportunidade desperdiçada de modernização econômica e geração de empregos.

Vale lembrar que a empresa manteve planos de expansão em Virginia e Nashville — em locais onde as resistências políticas foram menores e os incentivos igualmente generosos.