O ensino superior brasileiro está passando por uma crise estrutural que pode ter impactos duradouros, de acordo com Paola Mello, sócia e analista da GTI, em sua participação no programa da BM&C News de ontem (09).
Mello destacou que o valor de um diploma de curso superior caiu consideravelmente nos últimos anos, especialmente fora das áreas mais reguladas, como saúde e direito. “Hoje, muitas profissões ligadas à tecnologia e ao mundo digital já não exigem uma formação acadêmica formal, e isso está afastando novos estudantes das universidades”, afirmou.
Segundo Mello, a pandemia de COVID-19 acelerou essa transformação. O ensino online se consolidou como uma alternativa viável e, em muitos casos, mais eficaz. “As pessoas perceberam que não só é possível aprender online, como é possível economizar tempo e ter acesso a professores de maior qualidade, sem precisar enfrentar o trânsito ou optar por faculdades de menor prestígio”, explicou.
Para ela, essa mudança de comportamento reduziu ainda mais a atratividade do ensino presencial, especialmente em cursos com uma estrutura mais “comoditizada”.
A sócia da GTI também ressaltou que as universidades que não estão focadas em cursos premium, como medicina, enfrentam uma competição destrutiva. “Muitas dessas instituições carregam grandes dívidas acumuladas em processos de consolidação, e o aumento de custos, como salários e aluguéis, pressionam ainda mais suas margens”, comentou a analista. A Cogna, por exemplo, possui uma dívida líquida de cerca de R$ 3 bilhões e enfrenta dificuldades para reduzir sua alavancagem, com resultados financeiros pressionados pela inflação e estagnação no ticket médio.
Para Mello, o setor de educação superior se tornou o que os analistas chamam de “armadilha de valor” — empresas que parecem baratas, mas continuam baratas. “Apesar do preço atrativo das ações, eu não vejo oportunidades significativas no setor de educação neste momento”, concluiu.