O Ibovespa fechou em leve queda, na quarta-feira (30), com o mercado acompanhando a divulgação dos dados sobre o desemprego e a incerteza no cenário político. O principal índice da bolsa brasileira (B3) encerrou o semestre em queda de 0,41%, aos 126.801 pontos e o dólar caiu 4,2%. No acumulado do mês, a alta foi de 0,46% , no semestre, esse resultado representa uma valorização de 6,5%.
Nos primeiros seis meses do ano o mercado lidou diretamente com a temática da inflação no mercado externo e doméstico. Além disso, também digeriu o cenário de avanço da vacinação contra o coronavírus no Brasil e a proposta de reforma tributária, que ainda impacta e levanta ruídos nos bastidores do Congresso Nacional.
Neste cenário, algumas ações do índice obtiveram mais destaque nesses seis meses. Confira quais papéis se destacaram, de forma positiva e negativa, no índice:
Maiores altas do semestre primeiro semestre:
BRKM5: Braskem (R$ 59,55 | +152,66%)
A petroquímica Braskem é a maior alta do ano até este momento. Para Vinícius Esteves, especialista de investimentos da SaraInvest, a pauta de retomada econômica puxou alta do papel do setor. “O setor ficou aquecido com a pauta e a demanda pelos produtos químicos da Braskem ficou mais forte. Ela está passando por um ciclo econômico muito favorável”, afirmou.
Ainda em abril, o mercado recebeu alguns rumores sobre a antiga Odebrecht – atual Novanor- vender sua fatia na Braskem. De acordo com Esteves, ainda não há nenhum comprador, no entanto iria agregar ainda mais valor para a companhia. “Esta parte criairia um valor a mais para ela”, completou Esteves.
Outro ponto que alavancou o papel da Braskem, foi o episódio do afundamento do solo em Maceió. Mesmo sendo considerado algo negativo, a resposta imediata da empresa quanto às soluções para o caso – incluindo a máxima de que o desembolso previsto para este ano não seria afetado pela questão, fez o cenário ser ainda mais otimista. “A companhia fez recentemente um investimento em sua fábrica em Alagoas, visando melhorarias e trouxe perspectivas para o papel”, finalizou Vinícius.
BIDI11: Banco Inter (R$ 77,79 | +137,11%)
Recém chegado no índice brasileiro, o Banco Inter oscilou entre perdas e ganhos nos pregões até aqui. Mesmo sendo um banco, ele possui uma veia tecnológica intensa para o setor – o que puxou sua valorização recentemente. Para Vinícius Esteves, a alta demanda pelo setor de tecnologia no início do ano alavancou o desempenho do banco.
“Vale ressaltar que, no mês passado, o follow on com a Stone foi um grande driver que reanimou as ações do Banco Inter, que traz muita sinergia. Ambas as empresas aproveitam o ‘know how’, Stone como meio de pagamentos, trazendo uma melhor experiência para os clientes do banco. Enquanto isso, o Inter tem seu marketplace, que consegue oferecer este canal de distribuição para também as pequenas empresas”, avaliou o especialista.
EMBR3: Embraer (R$ 18,87 |+112,22%)
Mesmo em um cenário prejudicado pela pandemia de Covid-19, o caminho trilhado por Embraer neste período foi pautado por forte alta das ações ainda em fevereiro.
Entre possibilidade de venda de aeronaves entre empresas europeias e o resultado do quarto trimestre, a empresa decolou de maneira considerável. No entanto, alcançou novos patamares com os veículos elétricos de decolagem e pouso vertical (os chamados eVTOL, na sigla em inglês), planejado com a Eve, sua subsidiária.
E não parou por aí, a próxima parada da empresa foi o anúncio da parceria com a Halo, para produzir “carros voadores” a partir da tecnologia UAM (Mobilidade Aérea Urbana) na América do Norte e na Europa.
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De acordo com o especialista, este foi “um driver principal muito claro e uma precificação do mercado de expectativa futura. Foi uma unidade de negócio de tráfego aéreo, mais voltado para o urbano de menor porte. Ainda é uma ideia do futuro, mas teve um investimento do fundo, que avaliaram essa unidade de negocio em R$2 bi.”
“Essa unidade não tem perspectiva para gerar receita ou lucro, mas houve esta expectativa como evento futuro”, ponderou.
HGTX3: Hering (R$34,21 | +100,03%)
Um papel diretamente impactado pela pandemia causada pelo novo coronavírus, a Cia Hering se viu em um cenário onde muitas varejistas enfrentaram alguns percalços neste ano. Neste cenário, a Hering parecia andar de lado também internamente: antes da pandemia, a empresa mirava em expansão de lojas físicas, o que foi drasticamente mudado no início da crise. Até que veio a proposta da rival, Arezzo.
“As ações da empresa sofreram muito no primeiro momento da pandemia e depois, andou de lado, em meados de abril na espera por retomada econômica.”, relembrou Esteves. “No fim daquele mês, veio a Arezzo com uma proposta que consideramos “hostil” e com isso a companhia, que estava de fato muito esquecida, chegou a subir quase 30% no dia com esta oferta de R$3 bilhões”, completa.
Por outro lado, mesmo com uma oferta tentadora no radar, a companhia fechou acordo após oferta do Grupo Soma. Nesta transação, segundo Esteves, o Grupo já conhecido por grandes aquisições do setor, levou “por uma enorme bagatela de R$5,1 bi, numa diferença de mais de R$2 bilhões entre as propostas”.
CVCB3: CVC (R$27,72 | +40,09%)
Outro setor duramente afetado pela pandemia, a conhecida empresa de turismo CVC ainda conseguiu ganhar forças – mesmo após estar no limbo das piores perfomances no início da crise. No entanto, para Esteves, problemas de governança também pesaram no desempenho da companhia – mas houve uma “volta por cima”.
“A pandemia bateu muito no setor e a empresa registrou diversos erros de governança. Mesmo após esta maré, ela conseguiu se manter viva no jogo, rolando muito parte de suas dívidas como alternativa. Se ela era a maior do setor, imaginem players menores, que com certeza faliram. No caso da CVC, remou contra a maré, muito pelos eventos de mercado de capitais e com a vacinação em alta, o cenário vai ser ainda mais favorável”, avaliou.
Maiores baixas do semestre:
PCAR3: Pão de Açúcar ( R$38,66| -33,80%)
Considerado um movimento de mercado, o cenário para Pão de Açúcar performar entre as maiores quedas da bolsa neste primeiro semestre se deve ao episódio de cisão. No dia 1 de março, as ações da Sendas (ASAI3), subsidiária que controla o Assaí, – estrearam na B3 na sessão depois da cisão do Pão de Açúcar (PCAR3).
Em apenas um pregão, a ação do Assaí fechou em alta de 386% em estreia após cisão, enquanto o Pão de Açúcar caiu 66%.
“O Pão de Açúcar foi puramente um evento aqui de mercado – a cisão. Ou seja, o grupo Assaí era uma empresa dentro do grupo GPA. Quando teve essa separação, o valor que era muito maior, acaba caindo com saída”, avalia Esteves,
No entanto, as perspectivas futuras pela companhia são otimistas. De acordo com analista Marco Saravale e Vinícius Esteves, mesmo com a cisão, as demais empresas que fazem parte do GPA dão ares de confiança para o investidor. “São R$ 17 bilhões que são destravados [pelo GPA], considerando apenas a Cnova e o Grupo Éxito, eu ainda não estaria considerando, a operação Brasil do grupo Pão de Açúcar. No caso, tem ainda o upside para companhia destravar valor”, completou.
IRBR3: IRB Brasil (R$5,77 | -29,46%)
No caso de IRB Brasil, a empresa ainda segue na tentativa de se livrar do rastro de baixas desde o ano passado. Para Vinícius Esteves, os problemas de governança ainda refletem na performance da empresa — mesmo com as atualizações da empresa sobre a condução de melhorias para estes problemas.
Em seu último balanço, teve um lubro de R$ 1,9 milhão e R$ 135,1 milhões de prejuízo no mesmo período do ano passado. No lucro líquido, a empresa obteve R$ 41,5 milhões entre os meses de janeiro e abril – Excluindo os impactos dos negócios descontinuados (run-off) e dos eventos não recorrentes (one-offs).
“A companhia teve uma série de fatos que não eram rentáveis e davam prejuízo. Ela ainda vem se reciclando para então almejar um patamar saudável de semestralidade”, explicou Esteves.
EZTC3: EzTec (R$31,1 | -26,54%)
Mesmo sendo vinculada a um nicho de construção civil ligado ao público de alta renda, a EzTec acumulou perdas durante este primeiro semestre. Muito impactada pela segunda onda da pandemia, a empresa também desistiu do seu outro braço ligado ao ramo corporativo – a Ez Inc.
Para o especialista em investimentos, o primeiro trismestre foi mais fraco porque as companhias tiveram que segurar seus lançamentos. “Ela tem é um pipeline de lançamentos menos agressivo que outros players do setor, mas ainda teve o aumento do valor de materiais de construção civil, o que acaba afetando também as companhias”, avaliou.
Outro ponto que pesou para a companhia foi o aumento da taxa Selic, que amargurou uma alta de juros e que impactou o cenário do segmento. “Este movimento foi ruim para o setor, traz incerteza. No entanto, a taxa está em um patamar ‘saudável’. A empresa segue forte no segmento, apesar na queda”, completou.
UGPA3: Ultrapar (R$18,39 |-20,73%)
Em um cenário com boas oportunidades, a Ultrapar não conseguiu um bom desempenho nos primeiros seis meses do ano. Neste caso, “foi questão mais técnica de múltiplos. Ela estava, mais ou menos, 21 vezes do preço-lucro, quando normalmente é menos”, iniciou Esteves.
Um dos pontos levantados pelo especialista foram as transações feitas neste ano que impactaram o seu core business. Em maio, por exemplo, a companhia vendeu a Extrafarma para Pague Menos (PGMN3) em uma trnsação de R$ 700 milhões. Já no mês seguinte, vendeu a ConectCar Soluções de Mobilidade Eletrônica, por R$ 165 milhões, ao grupo Porto Seguro S.A.
“A companhia vem sofrendo muito com foco na rentabilidade do negócio. Ela tem uma série de parte do seu negócio que não faz parte do seu core business. Estas duas transações eram coisas apartadas, negócios totalmente diferentes do que ela normalmente faz. No entanto, após estas vendas faz a companhia ter foco no negócio.”, avaliou.
BBSE3: Seguridade (R$23,10 | -20,71%)
Em pauta recentemente o, BB Seguridade (BBSE3) amargou a quinta posição entre as maiores perdas devido ao seu atual ceário de mudanças. Em junho, a empresa informou que seu conselho de administração aprovou um reforço de capital de até 600 milhões de reais na Brasilprev, que concentra os negócios de previdência complementar aberta.
“Considerando a manutenção da participação acionária de 74,995%, caberá à BB Seguros, subsidiária integral da BB Seguridade que detém o investimento direto na Brasilprev, subscrever e integralizar um valor de até 449,97 milhões do referido aumento”, afirma a BB Seguridade no fato relevante.
Segundo o banco, o aumento de capital da BrasilPrev é prudencial, mas acende um alerta.
“Os resultados do negócio de previdência devem continuar a ser prejudicados pela volatilidade e pelo descasamento na remuneração de ativos (IPCA) e passivos (IGP-M), dado o pico de 15% no acumulado do ano do IGP-M, enquanto o IPCA aumentou apenas 3%”, informou.
Para Esteves, este é caso se deve ao “descasamento da remueração dos ativos e dos seus passivos. Por isso, foi necessário fazer este movimento na BrasilPrev para honrar seus pagamentos”.
Outra mudança impactou a seguradora, a renúncia do CEO da companhia. Marcio Hamilton Ferreira deixou o cargo após uma restruturação. Em substituição, o BB indicou Ulisses Christian Assis, atual Diretor Comercial e de Marketing da Brasilprev. Ulisses é funcionário de carreira no BB estando a 21 anos na companhia.
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