A indústria automobilística da Espanha enfrenta um período de incertezas diante da proposta de uma nova legislação que visa impor restrições severas à publicidade de veículos movidos por combustíveis fósseis. Essa iniciativa, parte de um pacote legislativo mais amplo proposto pelo Ministério de Direitos Sociais, Consumo e Agenda 2030, coloca em destaque a necessidade de rever as estratégias de marketing das montadoras, especialmente para veículos que ainda dependem, em grande medida, de motores a combustão. Para uma economia cuja base industrial tem grande parte de sua força na fabricação de automóveis, as implicações comerciais e trabalhistas são contundentes.
A proposta legislativa enfoca também outros aspectos de consumo, como a redução dos voos de curta distância em benefício de alternativas menos poluentes, e a restrição sobre embalagens menores que visam diminuir a quantidade de produto consumido, orientando-se, portanto, para um consumo mais consciente e sustentável. Está em análise, ainda, a proibição do uso de slogans que não possam ser comprovados, como termos ambientais genéricos que podem induzir o consumidor a acreditar na sustentabilidade dos produtos oferecidos.
Como a nova legislação pode impactar a indústria automobilística?
A legislação pode ter consequências significativas para a indústria automobilística espanhola, particularmente para modelos que têm sua motorização majoritariamente a gasolina, como é o caso de veículos populares como Seat Ibiza e Arona. Estes modelos não só figuram entre os mais vendidos no mercado espanhol como também representam uma grande parcela da produção e das vendas da Seat, sendo fabricados em cidades chave como Martorell. A impossibilidade de promover estes veículos conforme a nova legislação pode impactar diretamente a produção e os empregos no setor, forçando as montadoras a reavaliar suas opções de mercado e a busca por alternativas viáveis e ecológicas.
O que acontecerá com os veículos híbridos e movidos a gás natural?
Apesar de o texto legislativo não proibir claramente a publicidade de veículos híbridos, existe uma ambiguidade quanto aos modelos HEV e MHEV, que ainda dependem de combustíveis fósseis para operar. Isso leva a uma incerteza no mercado, considerando que veículos híbridos têm ganhado relevância como alternativa sustentável sem a necessidade de infraestrutura extensa para carregamento elétrico. Veículos movidos a gás natural, por outro lado, encontram-se em ascensão, com as vendas crescendo notavelmente, apesar de sua presença limitada no mercado de automóveis de passeio. Esses modelos geralmente recebem um selo ambiental ECO, oferecendo benefícios regulatórios em áreas urbanas restritas.
Quais são os desafios para a transição para veículos elétricos na Espanha?
A introdução de veículos elétricos representa um desafio significativo na Espanha, tanto pela falta de infraestrutura de carregamento quanto pelos altos custos de importação de certas marcas, especialmente as chinesas. Incentivos governamentais, como os do plano Moves 3, têm sido essenciais em promover a transição, mas seus recursos estão se esgotando, o que pode deixar muitos potenciais compradores dependentes de opções de financiamento mais acessíveis. O Cupra Tavascan ilustra bem os desafios enfrentados, sendo fabricado na China e sujeito a impostos pesados, mesmo sob a bandeira de uma marca espanhola.
Quais as possíveis consequências econômicas da nova legislação?

Especialistas alertam que a implementação da nova legislação pode ter efeitos adversos sobre a economia espanhola, fortemente dependente da indústria automobilística. Com mais de 2,3 milhões de veículos produzidos em 2024, a Espanha é o segundo maior fabricante de automóveis da Europa. A restrição na publicidade dos carros a combustão deve impulsionar a necessidade de adaptações no mercado interno e de políticas que incentivem as vendas de modelos elétricos ou híbridos, mas ainda há uma quantidade substancial de questões que precisam ser resolvidas para uma transição suave e equilibrada para as novas diretrizes sustentáveis impostas pela lei. A possível aprovação deste projeto pode marcar um ponto de virada crucial no futuro da mobilidade e na configuração econômica do país.