A combinação entre o avanço acelerado da inteligência artificial, o aumento da fragmentação geopolítica e a persistência de pressões inflacionárias deve tornar 2026 um ano decisivo para investidores globais. É o que aponta o estudo “Cenários Estratégicos para 2026”, desenvolvido pelo economista Dr. Carlos Honorato, especialista em scenario planning e estratégia econômica, à frente da consultoria OUTPOD.
Baseado no Outlook 2026 do J.P. Morgan e em metodologias clássicas de planejamento por cenários, o trabalho constrói um framework que busca responder à principal questão enfrentada por investidores privados: como posicionar portfólios em um ambiente marcado por oportunidades transformacionais e riscos sistêmicos ao mesmo tempo.
Um cenário global mais complexo e menos previsível em 2026
Segundo o estudo, algumas tendências já podem ser tratadas como premissas de alta probabilidade. Entre elas, estão a expectativa de que os juros americanos encerrem 2026 entre 3,5% e 4,5%, um crescimento global moderado próximo de 3%, inflação estruturalmente acima de 2% nos países desenvolvidos e a consolidação da inteligência artificial como motor relevante de produtividade, especialmente por meio de investimentos em data centers, semicondutores e infraestrutura energética.
Ao mesmo tempo, o trabalho destaca que a fragmentação geopolítica deixou de ser um risco hipotético e passou a integrar o cenário-base, com avanço do friend-shoring, restrições tecnológicas entre Estados Unidos e China e maior uso de tarifas como instrumento de política econômica.
As duas grandes incertezas que moldam 2026
A partir desse pano de fundo, o estudo de Carlos Honorato identifica duas incertezas críticas que definirão o comportamento dos mercados:
- A capacidade real da inteligência artificial de gerar ganhos consistentes de produtividade, indo além do entusiasmo inicial.
- O grau de intensidade da fragmentação geopolítica, que pode variar entre uma acomodação administrável e uma ruptura mais profunda das cadeias globais.
Da interação entre esses dois eixos surgem quatro cenários plausíveis para 2026, cada um com impactos distintos sobre crescimento, inflação e alocação de ativos.
Quatro cenários, quatro leituras para os mercados
- No cenário AI Golden Age, considerado o mais otimista, a IA supera expectativas, impulsiona o crescimento global para algo entre 3,5% e 4% e mantém a inflação sob controle. Nesse ambiente, ativos de tecnologia, energia, defesa e infraestrutura digital tendem a se destacar, embora o risco de excesso de valuation permaneça no radar.
- Já o cenário Splintered Innovation, apontado como o mais provável pelo estudo, combina avanço tecnológico com fragmentação geopolítica mais intensa. A inovação ocorre em blocos regionais, os custos aumentam, a inflação permanece elevada e a volatilidade se intensifica. Ativos reais, energia, defesa e empresas com cadeias produtivas diversificadas ganham protagonismo.
- O Soft Landing Pragmático descreve um ambiente mais equilibrado, no qual a IA avança de forma gradual, a inflação converge para níveis próximos de 2% e os bancos centrais conseguem cortar juros com mais confiança. Nesse contexto, há espaço para rotação para value, small caps e mercados emergentes fora da China.
- Por fim, o cenário Stagflation 2.0 representa a cauda de risco. Nele, a IA frustra expectativas no curto prazo, as tensões comerciais se intensificam e o mundo enfrenta crescimento baixo com inflação persistente. Ouro, commodities, TIPS e estratégias defensivas passam a dominar a alocação.
Estratégias robustas para navegar a incerteza
Independentemente do cenário que venha a se materializar, o estudo destaca a importância de estratégias robustas, capazes de funcionar em diferentes ambientes macroeconômicos. Entre as recomendações estão manter exposição temática à IA, ampliar a presença em ativos reais, reduzir duration em renda fixa, diversificar geograficamente e adotar mecanismos de hedge contra eventos extremos.
“O diferencial não estará em tentar prever um único futuro, mas em construir portfólios preparados para múltiplos caminhos”, aponta o framework desenvolvido por Carlos Honorato.
Monitoramento será decisivo em 2026
O trabalho também lista indicadores de alerta que devem ser acompanhados de forma recorrente, como o volume de investimentos em data centers, os resultados das grandes empresas de tecnologia, anúncios tarifários, a trajetória da inflação PCE nos Estados Unidos e o comportamento dos spreads de crédito.
Segundo o estudo, a disciplina no monitoramento e a flexibilidade para ajustes táticos tendem a separar portfólios resilientes daqueles mais vulneráveis em um ano que promete testar decisões estratégicas.













