A decisão do ministro Gilmar Mendes, que determinou que apenas a Procuradoria-Geral da República pode pedir impeachment de ministros do Supremo, é simples no papel, mas explosiva no efeito político. Em um Brasil onde Executivo e Legislativo já vivem um conflito permanente, o Judiciário agora entra oficialmente na arena.
Antes, qualquer cidadão podia apresentar denúncia por crime de responsabilidade contra ministros do STF. Agora, só a PGR tem essa legitimidade. Além disso, o Senado só poderá abrir processo com dois terços dos votos, e fica proibido usar decisões judiciais como motivo para impeachment.
Do ponto de vista jurídico, o argumento é proteger a independência dos ministros. Sem essa proteção, votos impopulares poderiam virar justificativa para retaliações políticas. Num país polarizado, isso pode realmente virar arma de pressão contra o Supremo.
Mas há um outro lado. Concentrar esse poder somente na PGR significa retirar da sociedade, e até mesmo do Senado, a possibilidade de provocar investigações quando há suspeitas reais. A medida passa a impressão de auto blindagem, principalmente porque a PGR é nomeada pelo presidente da República e pode estar alinhada a um governo específico.
A decisão aumenta a desconfiança e alimenta a narrativa de que o STF tenta controlar quem pode ou não questioná-lo. E isso ocorre justamente quando o país precisa de mais equilíbrio entre os Poderes, não menos.
Ao invés de pacificar, a medida tende a elevar a tensão institucional, porque Legislativo e Judiciário já vinham se estranhando em outras pautas sensíveis. Agora, qualquer movimento será visto sob a lente da polarização.
O Brasil atravessa uma era de decisões difíceis na economia, na política e na segurança jurídica. Empurrar mais um Poder para o centro da crise institucional só aumenta a incerteza num momento em que o país deveria estar construindo consensos.
No fim, a pergunta que fica é simples: A decisão fortalece a democracia ou cria mais um foco de conflito? Do jeito que foi tomada, e no momento em que foi tomada, parece muito mais gasolina do que água num incêndio político que já está fora de controle.
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