A queda recente do Bitcoin traz à discussão o risco do uso de criptomoedas como garantia de crédito para investidores que querem evitar a venda de suas posições. É um reflexo comum de quem acredita no longo prazo dos criptoativos e não quer realizar prejuízo no curto prazo.
Muitos investidores preferem manter sua posição apostando numa recuperação futura, seja por convicção, seja para evitar tributação em caso de venda. Por isso, a tomada de crédito com garantia da cripto é uma decisão que exige muito mais racionalidade do que impulso, especialmente quando estamos falando de um ativo que pode subir ou cair 20% em questão de horas.
Nos últimos anos, plataformas brasileiras e internacionais vêm ampliando a oferta de crédito, não somente com BTC, mas com ETH e até mesmo altcoins como colateral, acompanhando um movimento global. Pesquisas e relatórios de mercado mostram que os investidores costumam recorrer a esse tipo de empréstimo em três contextos principais:
- Obter liquidez sem vender o ativo, preservando a posição de longo prazo.
- Acessar crédito de forma rápida e com menos burocracia, já que muitas plataformas não exigem análise de crédito tradicional.
- Alavancar posições ou aproveitar oportunidades, mantendo cripto como garantia enquanto usam o dinheiro para outras aplicações.
Ou seja, os empréstimos com cripto costumam atrair principalmente investidores experientes, com perfil mais ativo, que entendem o risco envolvido e veem valor em não interromper sua estratégia de longo prazo.
Como funciona a operação
A mecânica é relativamente simples: você entrega seus criptoativos como garantia, recebe liquidez e permanece exposto à eventual recuperação do ativo. Na prática, trata-se de uma operação alavancada e, portanto, mais arriscada.
O indicador central desse processo é o LTV (Loan-to-Value), que determina quanto você pode tomar emprestado em relação ao valor da garantia. Quanto maior o LTV, maior o risco. Quanto menor, maior a margem de segurança.
Suponha que você entregue R$ 100 mil em Bitcoin como garantia. Se a plataforma define um LTV inicial de 40%, você pode tomar até:
R$ 100.000 × 40% = R$ 40.000 de empréstimo.
Agora imagine que o Bitcoin desvaloriza 30%. Sua garantia cai para R$ 70 mil. Seu LTV sobe imediatamente para:
R$ 40.000 ÷ R$ 70.000 = 57%.
Se o limite de segurança for 60%, você está próximo de uma chamada de margem. Uma nova queda pode gerar liquidação automática, mesmo que você não queira vender o BTC naquele momento. Esse é o risco estrutural dessa operação.
A escolha do colateral também influencia diretamente o risco:
• Bitcoin: ativo mais seguro dentro do universo cripto.
• Ethereum: sólido, mas com volatilidade maior.
• Altcoins: menos líquidas e muito mais voláteis, portanto, mais perigosas como garantia.
As plataformas frequentemente aplicam LTV menores para altcoins justamente por causa desse risco.
Quando essa operação faz sentido?
Apesar de parecer uma solução rápida, esse tipo de crédito não foi feito para a pessoa física média. Ele faz sentido apenas para quem:
• Já tem posição sólida e estratégica em cripto.
• Possui liquidez fora do mercado para cobrir chamadas de margem.
• Compreende plenamente a possibilidade real de perder parte ou todo o colateral.
• Busca liquidez temporária sem comprometer a liquidez necessária para cobrir chamadas de margem, e que não seja usada para gastos com consumo.
Em resumo: a liquidez que protege a operação não pode ser a mesma liquidez que o investidor quer obter. Se uma depende da outra, a operação já nasce frágil.
Quando essa operação não faz sentido?
Para todo o restante dos investidores, especialmente para quem está inclinado a usar esse crédito para pagar contas ou fazer compras. Neste sentido, a operação é inadequada e perigosa e pode transformar volatilidade em dívida.
Quais são os erros comuns que os investidores cometem nesse tipo de operação?
Os erros comuns incluem:
• Trabalhar com LTV alto demais, deixando pouca margem para quedas.
• Depender apenas de cripto como fonte de liquidez.
• Subestimar a volatilidade, especialmente após quedas fortes como as recentes.
• Não compreender prazos, custo do crédito e gatilhos de liquidação da plataforma.
Historicamente, esses erros levam ao mesmo resultado: liquidação forçada no pior momento, exatamente o oposto do que o investidor queria evitar.
Conclusão
A queda do Bitcoin costuma gerar um impulso emocional:
“Não quero vender agora, então vou pegar um empréstimo e esperar melhorar.”
Mas quando o Bitcoin cai, o custo do risco sobe. Empréstimos com cripto em garantia podem fazer sentido, mas apenas para quem tem conhecimento, experiência e, principalmente, liquidez de proteção. Para todos os demais, é uma armadilha que pode comprometer patrimônio e a tranquilidade financeira.
*Coluna escrita por Carlos Castro, planejador financeiro pessoal, CEO e sócio fundador da plataforma de saúde financeira SuperRico
As opiniões transmitidas pelo colunista são de responsabilidade do autor e não refletem, necessariamente, a opinião da BM&C News. Leia mais colunas do autor aqui.














