O principal fator por trás da pressão inflacionária no Brasil é o risco fiscal, segundo dois especialistas ouvidos pelo portal BM&C News. Fabrizio Velloni, economista da Frente Corretora acredita que o risco fiscal vem puxando a inflação brasileira ao elevar os custos de insumos importados, o que impacta diretamente os preços. Ele destacou a valorização do dólar, que subiu cerca de 12% em 2023, saindo de R$ 4,95 no início do ano para R$ 5,45. Isso aumentou significativamente os custos de produção, pressionando a inflação. “O governo tem focado muito mais na arrecadação do que na redução de gastos”, afirma Velloni. Segundo ele, isso agrava o problema fiscal e força o Banco Central a adotar uma postura mais rígida para conter os efeitos inflacionários.
VanDyck Silveira, comentarista econômico, compartilhou uma visão semelhante, afirmando que “enquanto o fiscal não for tratado como um risco real, não haverá convergência de expectativas para a inflação”. Segundo Silveira, a falta de uma reforma fiscal está desancorando as expectativas para 2024 e além. Ele acrescentou que “não será possível controlar a pressão inflacionária apenas com a política monetária”, destacando a necessidade de ajustes fiscais.
Para eles, o impacto do risco fiscal sobre a inflação e a taxa Selic tem sido decisivo . As análises abordaram a trajetória da moeda brasileira e as perspectivas para a política monetária nos próximos meses, destacando os desafios para o controle da inflação em um ambiente de crescente incerteza fiscal. Os especialistas concordaram que a taxa Selic deve permanecer elevada. O mercado projeta que a Selic chegará a um patamar entre 12% e 13% ao final do ciclo de alta. Velloni observou que “o mercado está cobrando o preço pelo risco Brasil”, com o Banco Central sendo pressionado a manter os juros elevados devido à falta de clareza nas políticas fiscais. Para ele, o cenário atual é guiado mais pelos riscos fiscais e externos do que pelo desempenho econômico interno.
Comparações com o Cenário Internacional
Velloni também traçou um paralelo com as políticas monetárias dos Estados Unidos. Ele apontou que, nos EUA, cortes antecipados na taxa de juros geraram euforia no mercado, mas a inflação não cedeu como esperado. “O Federal Reserve cortou os juros prematuramente, e agora o mercado está revisando suas expectativas”, afirmou, sugerindo que o Brasil pode enfrentar um cenário similar se continuar ignorando os riscos fiscais.
Silveira reforçou que a elevação dos juros nos Estados Unidos coloca pressão sobre as economias emergentes, como o Brasil, que precisam oferecer prêmios de risco mais altos para atrair capital. Isso complica ainda mais o cenário econômico brasileiro, que já enfrenta uma conjuntura difícil.
Risco Fiscal a Longo Prazo
Silveira alertou para as consequências de longo prazo, caso o governo não adote medidas efetivas de ajuste fiscal. Ele afirmou que, sem uma mudança significativa, o Brasil poderá enfrentar déficits nominais insustentáveis, com impactos graves na economia. “Se nada mudar, poderemos ter uma crise fiscal semelhante à de 2014-2016”, advertiu, ressaltando que uma decisão política será necessária para evitar um colapso.
A análise concluiu que o futuro da taxa Selic depende diretamente de uma reorientação das políticas fiscais. Sem ação imediata, tanto a inflação quanto os juros devem permanecer em patamares elevados, prejudicando o crescimento econômico e a confiança do mercado.