A inteligência artificial já é uma aliada indispensável no mercado financeiro global. Ao combinar grandes volumes de dados com algoritmos cada vez mais sofisticados, a tecnologia vem revolucionando a forma como os portfólios são construídos, avaliados e rebalanceados. Mas, segundo Torsten Sackmann, executivo da LF Partners, a decisão final ainda deve ser tomada por pessoas.
“Mesmo com modelos eficientes, ainda somos nós que decidimos quando rebalancear a carteira“, disse Sackmann em entrevista ao programa Mercado & Beyond, da BM&C News.
Inteligência artificial exige transparência e regras claras
Com a crescente adoção de estratégias quantitativas e o uso intensivo de inteligência artificial nos investimentos, cresce também a preocupação dos investidores com a transparência — especialmente diante de modelos muitas vezes considerados uma “black box”.
“O investidor quer saber no que está aplicando. Estratégias quantitativas não podem ser uma caixa-preta”, alerta Sackmann. Na LF Partners, a gestora realiza rebalanceamentos mensais e expõe todas as posições aos clientes, mantendo transparência e liquidez como pilares.
Ainda que a IA traga agilidade e alcance, a empresa mantém filtros rigorosos: só investe em ações com mais de 10 anos de histórico, boa liquidez e lucros consistentes. “Não usamos alavancagem e monitoramos as carteiras diariamente. O olhar humano continua indispensável”, reforça.
Mesmo com volatilidade política e fiscal, o Brasil permanece no radar de investidores globais. “É um mercado interno relevante, com setores estratégicos como agronegócio, energia renovável e infraestrutura”, avalia Sackmann.
Ele cita o interesse crescente em energia verde, especialmente por fundos europeus, além das oportunidades de joint ventures com capital estrangeiro. Um dos casos citados foi o aeroporto de Florianópolis, modernizado com capital e gestão internacionais.
Brasil atrai investidores estrangeiros, mas inteligência artificial não ignora riscos
Para Sackmann, a Suíça se destaca como porto seguro em tempos de fragmentação geopolítica e desvalorização do dólar. “O franco suíço se valorizou como proteção cambial. A Suíça une neutralidade política, ambiente regulatório favorável e liderança em inovação”, explica.
Segundo ele, além de ETFs temáticos e empresas líderes em nichos globais, o país oferece multiativos e multimoedas, atraindo investidores que buscam resiliência e exposição global.
Mesmo com o avanço de blocos econômicos mais fechados e movimentos protecionistas, a diversificação internacional ainda entrega melhores resultados. “Carteiras globais reduzem riscos e aumentam a consistência dos retornos no longo prazo”, afirma.
Para ele, o segredo não está na simplicidade, mas na estratégia clara: “Não basta seguir a moda. É preciso ter liquidez imediata e visão de longo prazo”.
Embora ofereça boas oportunidades setoriais, Sackmann acredita que falta ao Brasil uma política externa mais ambiciosa. “Ainda não vejo o país se posicionando como player global. Falta institucionalidade para transformar potencial em influência”, afirma.
Na visão dele, os setores mais promissores para o investidor estrangeiro continuam sendo: agronegócio, energia limpa e infraestrutura.
Inteligência artificial não elimina riscos geopolíticos, mas ajuda a enfrentá-los
A política de juros dos EUA influencia diretamente os fluxos para os mercados emergentes. “Quando os juros americanos sobem, o dólar atrai capital. Quando caem, o Brasil e outros emergentes voltam a ganhar competitividade”, explica.
Neste cenário, a Suíça com juros baixos e estabilidade fiscal, emerge como destino alternativo, inclusive para quem deseja reduzir a exposição ao dólar. “Temos visto maior procura por ativos e proteção cambial em franco suíço”, revela.
Alemão naturalizado suíço, Sackmann atua há mais de 25 anos no mercado latino-americano. Fluente em português e casado com uma brasileira, ele conhece bem o ambiente local. “É essencial respeitar a cultura e adaptar estratégias. Negócios no Brasil exigem sensibilidade”, finaliza.