A volta de Donald Trump ao cenário global reacende debates sobre protecionismo e desglobalização. O ex-presidente dos EUA tem adotado uma postura cada vez mais agressiva na política comercial, promovendo tarifas que impactam desde aliados históricos, como México e Canadá, até potências emergentes, como Brasil. O multilateralismo, que já vinha perdendo força, agora enfrenta uma aceleração desse processo.
Manuel Furriela, mestre em direito internacional, analisou essas mudanças no programa Strike, da BM&C News, apontando as consequências para a economia global e, principalmente, para o Brasil. “Não é um movimento que começa agora, mas Trump impulsiona essa desglobalização a um nível nunca visto antes“, destacou o especialista.
Sobretaxas e retaliações de Trump: Brasil pode ser um dos alvos?
Uma das principais preocupações é a posição do Brasil nesse novo tabuleiro comercial. No passado, o país se beneficiou indiretamente das disputas entre EUA e China, conquistando espaço em alguns mercados. No entanto, com a escalada protecionista de Trump, o Brasil passa a ser um potencial alvo de sobretaxas.
“Trump quer proteger os produtores americanos e já sinalizou que pode taxar produtos brasileiros de forma agressiva“, explica Furriela. A preocupação recai sobre commodities e produtos industrializados que competem diretamente com os americanos no mercado dos EUA.
O fim do NAFTA e a crise com aliados históricos
Outro ponto abordado na entrevista foi o fim do NAFTA e as sobretaxas impostas por Trump ao México e Canadá, seus tradicionais aliados. O ex-presidente desmontou o antigo acordo comercial e impôs tarifas de 25% sobre as importações desses países. No entanto, um waiver de 30 dias foi concedido, permitindo negociações antes que as tarifas entrem em vigor. “Isso mostra que ninguém está a salvo. Se ele faz isso com aliados históricos, o que não faria com países em uma posição comercial menos privilegiada?“, pondera Furriela.
Trump contra o BRICS e a guerra monetária
O BRICS também entrou na mira do ex-presidente. Trump ameaçou sobretaxar em até 100% os países que buscarem alternativas ao dólar. O Brasil, sob o governo Lula, tem se alinhado à China e ao grupo em várias frentes, o que pode gerar represálias econômicas.
Furriela alerta que o Brasil precisará equilibrar pragmatismo e diplomacia. “O dólar é um ativo crucial para os EUA, e Trump fará de tudo para impedir que o BRICS crie alternativas que diminuam sua influência“.
Brasil tem espaço para negociar?
Apesar das ameaças, Furriela acredita que o Brasil pode usar a diplomacia para minimizar danos. “Uma possibilidade é o Brasil abrir mais seu mercado para negociar melhores condições com os EUA e evitar sobretaxas. Mas isso também pode gerar pressão inflacionária interna“.
Outro fator é a postura do governo Lula, que historicamente teve atritos com Trump, diferente do que ocorreu com Bolsonaro. “Talvez o Brasil busque uma abordagem mais pragmática, evitando embates diretos para manter relações comerciais favoráveis“, explica.
Impacto nas políticas ambientais e na governança global
As mudanças de Trump também afetam o clima global. O ex-presidente já retirou os EUA de acordos ambientais e pode continuar desmontando regulações, seguindo a linha de outros líderes conservadores, como Javier Milei, na Argentina.
Além disso, Trump deslegitima organismos como ONU, OMS e OMC, enfraquecendo instituições globais. “Os EUA não querem mais seguir as regras do jogo internacional, preferindo agir unilateralmente”, destaca Furriela.