As queimadas que se alastram pelo Brasil, somadas ao tempo seco, têm causado impactos significativos na qualidade do ar e na saúde das pessoas. Especialistas discutiram no 12º Congresso Internacional Oncoclínicas Dana-Farber Cancer Institute a possibilidade de um aumento na incidência de câncer, especialmente de pulmão, associado aos efeitos gerados pelo fogo.
Na roda de conversa, os debatedores explicaram que as micropartículas liberadas pelas queimadas, principalmente as chamadas PM2.5, têm relação direta com inflamações pulmonares severas. Essas inflamações podem levar a mutações celulares que, ao longo do tempo, podem resultar em câncer. O diretor-geral do Instituto Nacional de Câncer (INCA), Roberto de Almeida Gil, reforçou a gravidade dessas partículas no ar.
Quais são os riscos da inalação desta fumaça?
A fumaça das queimadas contém uma série de substâncias tóxicas e cancerígenas, como:
- Material particulado fino (MP2.5): Partículas minúsculas que podem penetrar profundamente nos pulmões e causar inflamação e danos celulares.
- Monóxido de carbono: Um gás incolor e inodoro que se liga à hemoglobina, reduzindo a capacidade do sangue de transportar oxigênio.
- Hidrocarbonetos aromáticos policíclicos (HAPs): Compostos orgânicos que são conhecidos por causar câncer em animais e são considerados prováveis cancerígenos em humanos.
Além do câncer de pulmão, a exposição à fumaça das queimadas está associada a outros problemas de saúde, como:
- Doenças respiratórias: Bronquite, asma, pneumonia e outras doenças pulmonares.
- Doenças cardiovasculares: Ataques cardíacos, derrames e arritmias.
- Irritação nos olhos, nariz e garganta.
- Problemas de pele.
Quais são os riscos das partículas PM2.5?
As partículas PM2.5, também conhecidas como material particulado fino, representam um grave problema de saúde pública devido ao seu pequeno tamanho, que lhes permite penetrar profundamente nos pulmões e até mesmo na corrente sanguínea.
Segundo Tatiane Tilli, pesquisadora e coordenadora da Plataforma de Oncologia Translacional na Fiocruz, essas substâncias “são 30 vezes menores do que um fio de cabelo, e, embora não as percebamos, as consequências biológicas e celulares que causam são muito significativas. Elas promovem estresse oxidativo e alterações epigenéticas que aumentam a suscetibilidade ao desenvolvimento de tumores”.
Principais riscos:
- Doenças respiratórias: A inalação de PM2.5 pode causar ou agravar diversas doenças respiratórias, como asma,bronquite, enfisema e câncer de pulmão. As partículas irritam as vias aéreas, causando inflamação e dificultando a respiração.
- Doenças cardiovasculares: A presença de PM2.5 na corrente sanguínea pode levar a inflamação nos vasos sanguíneos, aumentando o risco de doenças cardíacas, como ataques cardíacos e derrames.
- Câncer: Estudos epidemiológicos mostram uma forte associação entre a exposição crônica ao PM2.5 e o desenvolvimento de câncer de pulmão. Além disso, há evidências de que essas partículas podem estar relacionadas a outros tipos de câncer.
- Outros problemas de saúde: A exposição ao PM2.5 também pode causar irritação nos olhos, nariz e garganta,além de problemas de pele. Em casos mais graves, pode levar à redução da função pulmonar e à mortalidade prematura.
Como se proteger das PM2.5?
- Monitorar a qualidade do ar: Fique atento aos índices de poluição do ar em sua região e evite atividades ao ar livre quando os níveis de PM2.5 estiverem elevados.
- Utilizar máscaras: Em áreas com alta concentração de poluentes, o uso de máscaras de proteção respiratória, como as PFF2, pode ajudar a reduzir a inalação de partículas.
- Manter os ambientes internos limpos: Utilize filtros de ar em casa e no trabalho para reduzir a quantidade de partículas presentes no ar.
- Evitar atividades físicas intensas ao ar livre: Durante períodos de alta poluição, evite atividades físicas intensas ao ar livre, especialmente em horários de pico.
- Apoiar políticas públicas: Incentive políticas que visem reduzir as emissões de poluentes e melhorar a qualidade do ar.
Qual a relação entre poluição e câncer?
O risco de câncer associado à fumaça é ainda maior para moradores de grandes metrópoles como Brasília e São Paulo. Carlos Gil, diretor médico da Oncoclínicas e presidente do Instituto Oncoclínicas, ressaltou que estudos recentes, especialmente da Ásia, têm mostrado a relação direta entre poluição ambiental e câncer de pulmão em não fumantes. Ele afirmou que “a fumaça de grandes indústrias e da queima de combustíveis fósseis no trânsito é um dos principais fatores causadores de câncer”.
Como melhorar a qualidade do ar dentro de casa?
A pneumologista Tarciane Aline Prata, do Hospital Felício Rocho, deu orientações sobre formas de diminuir o desconforto causado pelo tempo seco. Confira abaixo algumas dicas práticas:
- Mantenha-se hidratado: beba bastante água.
- Utilize soro fisiológico nasal: aplique cerca de quatro vezes ao dia.
- Aumente a umidificação do ambiente: coloque uma vasilha de água nos ambientes e utilize aparelhos umidificadores.
- Consuma alimentos ricos em água: como frutas e vegetais.
- Use máscaras em ambientes poluídos: para reduzir a inalação de partículas.
Conclusão: O que esperar do futuro?
O aumento das queimadas e a consequente deterioração da qualidade do ar são preocupações urgentes para a saúde pública. As partículas PM2.5 representam um risco grave não apenas para doenças respiratórias agudas, mas também para o desenvolvimento de câncer a longo prazo. Medidas preventivas, tanto em nível individual quanto governamental, são essenciais para combater essa ameaça ambiental.
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