O Ibovespa fechou em queda nesta quinta-feira (4), com investidores reagindo a dados do mercado de trabalho norte-americano. O setor privado criou mais vagas de trabalho do que o esperado em dezembro nos EUA, enquanto os pedidos de seguro-desemprego vieram abaixo do consenso. Os dados indicam um mercado mais aquecido do que era aguardado e podem influenciar as apostas de investidores sobre a trajetória dos juros americanos.
Segundo análise de Dierson Richetti, especialista em mercado de capitais e sócio da GT Capital, o Ibovespa já abriu em queda no dia de hoje, e depois essa queda se acentuou no decorrer do dia com dados que foram divulgados. Na minha visão, esse movimento se dá hoje devido, principalmente, ao dado de PMI de Serviços do Brasil que saiu hoje.
Chegamos no menor patamar dos últimos 3 meses, com um recuo de 50,5 em dezembro. E essa redução reflete uma desaceleração da economia, um baixo consumo da economia quase chegando a um nível de contração. Ainda estamos em um período de expansão, que é um limite acima de 50, e abaixo de 50 é a contração da economia. O mercado entendeu que esse dado mostra uma desaceleração da economia interna brasileira.
Temos um governo que está envolvido com grandes gastos. Um exemplo que eu trago aqui é a aprovação do fundo partidário de 4,5 bilhões de reais para as eleições municipais que vão acontecer em outubro. Esses gastos também incomodam o mercado e pesam no índice do Brasil, que está até descolando muito do mercado americano.
Nos EUA, também saíram dados de emprego que vieram acima do esperado, mas mostrando, por outro lado, uma desaceleração do crescimento salarial. Hoje eu esperava uma volatilidade maior em virtude dos conflitos que estão havendo no Mar Vermelho. Além disso, temos a questão do Irã, em que houve também um atentado. Então são possíveis questões que poderiam interferir no mercado. Mas o principal é o resultado do PMI brasileiro mostrando uma possível contração da economia, dado que acaba impactando mais o nosso índice.
Entre as altas, temos Assai. Trata-se de um ajuste de posição. Na minha visão, é uma companhia com grande perspectiva de crescimento.
Braskem já tinha caído demais e está se recuperando, com uma questão muito atrelada a Maceió. Mas as coisas já estão sendo solucionadas. E Ambev é uma empresa resiliente nesses sentidos de queda, então há uma movimentação também positiva e está em um preço convidativo para a compra.
Já as baixas refletem os dois segmentos que mais caíram no dia de hoje, que é o segmento de shoppings e de construção civil muito em virtude dessa alta dos juros futuros hoje. Alpa, MRV, Pão de Açúcar, Casas Baía e Soma são empresas que estão correlacionadas e sofrem com juros altos. A MRV e as construtoras caíram muito numa tendência dessa desaceleração da economia. A gente está num ciclo de baixa de juros e isso favorece as construtoras. Mas o PMI mostrou que está havendo uma desaceleração. As pessoas não estão com recursos para, por exemplo, adquirir um imóvel. Essa é a interpretação do dado que deixou o mercado pessimista.
Falando especificamente dos DI’s, os DI’s hoje avançam, muito em virtude do leilão dos títulos do governo. O dólar está muito estável, não acompanhou inclusive os DI’s, tem uma leve alta mas se comparado com os DI’s, temos uma alta contida. Até porque esse preço que o dólar está é muito estável, não tem tanta oscilação neste momento. Então, basicamente, juros subiram em virtude do leilão da Secretaria da Fazenda e o dólar em si não acompanhou, ele ficou praticamente estável o dia inteiro.
Para o mês de Janeiro, o Ibovespa subiu no final de dezembro de uma forma bastante forte. As oportunidades existem, mas agora também há um momento de realizações em que investidores fizeram aquisições de boas ações e que chegaram na sua valorização, e elas acabam fazendo uma realização. Então é super comum ter uma realização, pelo menos no suporte de 132 mil que bateu hoje, em torno de 130 mil que seria o suporte mais forte nesse primeiro momento, para depois voltar com mais força e buscar, por exemplo, 140 mil.
O mês de Janeiro é um mês que ainda não tem tanta liquidez, os mercados ainda estão entendendo o que está acontecendo. Mas é importante olhar esses conflitos que estão acontecendo. Ainda reforço o conflito da Rússia e Ucrânia, Israel e o Hamas, e também esse possível atentado que houve no Irã, e também o conflito do Mar Vermelho.
No Mar Vermelho, se acaba tendo problemas naquela via marítima, os produtos acabam se tornando mais caros. Os Estados Unidos podem intervir, e aí esse conflito já começa a tomar uma proporção um pouco maior. Então, muito cuidado com os conflitos externos, eles refletem tanto nos Estados Unidos, quanto na Europa, quanto aqui na América do Sul, e muito cuidado nas operações. Além disso, no final de janeiro, a gente tem tanto a reunião do Copom quanto do FED, ontem tivemos a ata, e a ata até surpreendeu um pouco o mercado não transparecendo que irá ter uma queda de taxa já, num primeiro momento, os próprios dirigentes ainda estão um pouco desconfortáveis, eles estão preocupados com o controle da inflação, mas porém ainda não estão convictos da queda.
Confira abaixo o fechamento do Ibovespa e demais índices
- Ibovespa: 131.225,91 (-1,21%)
- S&P 500: 4.688,75 (-0,34%)
- Nasdaq: 14.510,30 (-0,56%)
- Dow Jones: 37.440,67 (+0,03%)
- Dólar: R$ 4,90 (-0,15%)
- Euro: R$ 5,37 (+0,10%)