O presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai jogar pesado em duas frentes, com vistas à eleição do ano que vem. Nos dois casos, vai jogar para a torcida e, caso não tenha sucesso, vai colocar a culpa no Centrão. A primeira frente é criar um programa de tarifa zero para os ônibus urbanos que seja implementado já em 2026.
O custo do projeto é de R$ 200 bilhões, conforme estimativa da Confederação Nacional dos Municípios – uma montanha de dinheiro, especialmente para um governo que está longe de manter as contas públicas sob controle e com um déficit nominal acumulado em doze meses superando a marca de R$ 1 trilhão.
Outro esforço concentrado do governo será para aprovar a jornada de trabalho 5×2, em substituição à atual, de seis dias trabalhados para um de folga. Essas duas pautas, se aprovadas, se somariam à isenção de imposto de renda para quem ganha até R$ 5.000,00 mensais e se tornariam uma poderosa arma eleitoral para Lula.
Ocorre que o tempo corre contra as pretensões do presidente. O Congresso vai aprovar projetos de lei e emendas constitucionais até o dia 22 de dezembro. São poucos dias para colocar a tarifa zero no papel e obter apoio nas duas casas.
Quanto à mudança na jornada de trabalho, o governo está reescrevendo a proposta após impasses na subcomissão que debatia o tema. De qualquer forma, a agenda do Congresso já está tomada por temas como orçamento, Lei das Diretrizes Orçamentárias e vetos. Portanto, esses temas devem entrar na pauta apenas no ano que vem.
Enquanto Lula acelera na curva e sabendo para onde vai, a direita parece estar com o GPS avariado. O senador Flávio Bolsonaro, por exemplo, disse no final de semana que tinha um “preço” para desistir da candidatura, dando a entender que renunciaria à corrida presidencial diante de uma anistia ao pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro. Diante da repercussão negativa em torno da declaração, Flávio mudou o discurso. Em entrevista à “Folha de S. Paulo”, ele disse o seguinte: “Minha candidatura não está à venda”.
O senador fez a seguinte avaliação de suas possibilidades: “Qualquer candidato que tenha o nome Bolsonaro, que é o meu caso, já parte de um piso bastante alto”. Essa análise, diga-se, é verdadeira. O sobrenome do ex-presidente consegue aglutinar imediatamente os bolsonaristas fiéis (entre assumidos e aqueles que estão dentro do armário) e gerar uma votação expressiva para o primeiro turno.
Ocorre que a base pode ser alta, mas o teto é limitado. Um candidato como Flávio tem dificuldades para obter apoio dos eleitores de centro – justamente o grupo pendular que, em 2022, deu a vitória a Lula.
Tarcísio, como era de se esperar, deu uma declaração de apoio ao senador. Mas ponderou que ele se juntava “a outros grandes nomes que já colocaram seus nomes [SIC] à disposição”. Essas alternativas seriam os governadores Ratinho Jr., Ronaldo Caiado e Romeu Zema.
A candidatura de Flávio trouxe um certo desgaste a Tarcísio junto ao Centrão, que torcia pela candidatura do governador. O apoio, embora protocolar, a Flávio desanimou os centristas. Mas se Tarcísio se rebelasse contra a decisão de Bolsonaro, seria classificado como traidor pelos seguidores do ex-presidente. Diante disso, ficou sem ação.
Ou seja, de um lado temos a esquerda apostando no populismo e a direita imersa em um difícil processo de fragmentação. O que pode surgir deste cenário?
O contraste entre uma esquerda que aposta em medidas de forte apelo popular e uma direita fragmentada abre espaço para que o centro político ganhe relevância. O eleitorado pendular, decisivo em 2022, pode rejeitar tanto o populismo quanto os extremos ideológicos, buscando estabilidade e pragmatismo.
Além disso, o cansaço da polarização poderia tornar a sociedade mais receptiva a uma alternativa moderada, capaz de oferecer diálogo e governabilidade. Um candidato de centro que se apresente como ponte entre os extremos teria condições de atrair empresários, classe média urbana e setores institucionais que desejam previsibilidade econômica e política.
Nesse cenário, a eleição de 2026 pode se organizar em três polos: a esquerda populista liderada por Lula e seus aliados, a direita fragmentada em busca de consenso e o centro moderado tentando se firmar como alternativa pragmática.
Se conseguir superar sua dificuldade histórica de se unir em torno de uma liderança clara e construir uma narrativa mobilizadora, o centro pode deixar de ser coadjuvante e se tornar protagonista, disputando votos decisivos no segundo turno.
Neste caso, Ratinho Jr. pode emergir como um nome que amalgamará o centro. Mas ele conseguirá algum tipo de apelo fora das regiões Sul e Sudeste? Este será um desafio hercúleo para seus marqueteiros, que podem eventualmente contar com uma ajuda providencial. Estamos falando dos dotes de um dos maiores comunicadores do país: Carlos Massa, o Ratinho sênior.
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