O Ibovespa encerrou o pregão desta quinta-feira (11/12) em alta leve, em um dia marcado por ajustes moderados e poucas apostas mais agressivas. O índice avançou cerca de 0,3%, fechando a sessão na casa dos 159 mil pontos, sustentado principalmente pelo bom desempenho de bancos e Vale, enquanto parte do setor de energia ajudou a limitar os ganhos.
Ao longo do dia, o mercado operou em compasso de espera após a Super Quarta, ainda digerindo as mensagens do Federal Reserve e do Copom. A leitura predominante entre os investidores é de que o cenário segue sendo de juros altos por mais tempo, tanto lá fora quanto no Brasil, o que exige mais seletividade na alocação em renda variável.
Análise de Flávio Conde: inflação, “economia anabolizada” e juros altos por mais tempo
No Closing, Flávio Conde, head de renda variável da Levante, avaliou que o momento continua exigindo firmeza dos bancos centrais no combate à inflação, especialmente em economias com histórico inflacionário como a brasileira. Segundo ele, inflação “não é brincadeira” e corrói principalmente a renda de assalariados e famílias de menor poder aquisitivo, o que justifica a postura cautelosa do Banco Central.
Conde destacou que, no Brasil, a resistência da atividade econômica – com vendas no varejo surpreendendo para cima e um mercado de trabalho ainda resiliente – contrasta com o nível elevado da Selic. Para ele, isso evidencia o efeito de uma política fiscal expansionista, que funciona como um “anabolizante” da economia: mantém o crescimento no curto prazo, mas aumenta a preocupação com a sustentabilidade desse ciclo quando os estímulos forem retirados.
Na visão do analista, o país convive hoje com baixa taxa de investimento e queda da poupança interna, enquanto o governo recorre a diferentes mecanismos fiscais para irrigar a economia. Esse quadro, aponta ele, deixa um “resíduo fiscal muito ruim” e pressiona a curva de juros, elevando o risco-país e mantendo o custo de financiamento em patamares elevados.
Fed dividido e o risco de erro de política monetária
Ao comentar a decisão do Federal Reserve, Flávio Conde lembrou que o comitê norte-americano está mais dividido e ainda lida com a incerteza gerada pelos efeitos do shutdown sobre a qualidade dos dados econômicos. Na avaliação dele, a falta de dados oficiais completos torna mais delicada qualquer decisão de política monetária, porque um “passo errado” pode comprometer o trabalho de meses no controle da inflação.
Conde avaliou que o corte de 0,25 ponto percentual nos juros dos Estados Unidos veio em grande parte por conta de sinalizações anteriores do Fed – especialmente após Jackson Hole – e pela necessidade de preservar a credibilidade do guidance. Na sua leitura, do ponto de vista estritamente técnico, teria sido mais prudente esperar mais dados, para calibrar com maior segurança o ritmo de afrouxamento.
Copom: comunicado “duro” e foco na meta de 2027
Sobre o Copom, Flávio Conde classificou o comunicado como mais duro do que o mercado esperava, especialmente pela indicação de que a taxa básica deve permanecer elevada por um tempo “bastante prolongado”. Para ele, essa escolha de palavras praticamente retira da mesa a chance de corte em janeiro e joga as apostas para a reunião de março.
Conde lembrou que o Banco Central trabalha com um horizonte de 18 meses para convergência da inflação em direção à meta de 3%, hoje associada ao segundo trimestre de 2027. Segundo ele, as projeções vêm caindo gradualmente – de 3,40% para 3,30% e, mais recentemente, para 3,20% –, o que sugere um possível espaço para cortes apenas quando essa projeção estiver mais próxima dos 3%. Nesse cenário, março volta a ser visto como a data provável para um novo movimento na Selic, desde que a trajetória de queda se confirme.
Como isso se reflete no pregão
A combinação de Fed cauteloso, Copom mais duro e uma economia doméstica ainda aquecida ajuda a explicar o comportamento do Ibovespa na sessão. A visão de que os juros seguirão elevados por mais tempo pressiona setores mais sensíveis ao custo de capital, mas, ao mesmo tempo, reforça o apelo de ações de bancos e de empresas com geração de caixa robusta, que ganharam destaque no pregão desta quinta-feira.
Na prática, o dia foi de alta contida, porém construtiva: a Bolsa se manteve acima de patamares importantes de suporte, enquanto investidores ajustam posições à luz do novo mapa de juros traçado na Super Quarta – cenário que Flávio Conde resume como um ambiente em que não há espaço para complacência com inflação, mas ainda há oportunidades pontuais em renda variável para quem souber escolher bem os ativos.

