O fluxo de resultados corporativos do terceiro trimestre segue intenso nesta sexta feira (7), e tende a influenciar o humor dos investidores ao longo do dia. A leitura dos números divulgados por diferentes setores oferece pistas importantes sobre margens, geração de caixa e níveis de alavancagem em um ambiente ainda marcado por juros elevados e competição acirrada no varejo digital. Além disso, o noticiário envolvendo dividendos, eficiência operacional e perspectivas setoriais pode provocar movimentos específicos entre as ações mais sensíveis ao ciclo econômico.
Nesse sentido, empresas de utilities, varejo, seguros, educação, petróleo, bens de capital e papel e celulose formam um conjunto diversificado de informações relevantes para acompanhar a dinâmica do Ibovespa. Enquanto isso, relatórios de casas de análise destacam companhias que atravessam um período de ajustes financeiros, além de outras que preservam geração robusta de caixa. Por outro lado, a busca por negócios com fundamentos sólidos e risco controlado permanece como tema central na construção de portfólios táticos para o encerramento de 2025.
Quais ações merecem atenção hoje?
Entre os serviços básicos, a Sanepar apresentou receita líquida próxima de R$ 1,8 bilhão, com alta anual de 5,5%, e EBITDA ajustado em torno de R$ 702 milhões. Além disso, o lucro líquido ajustado ficou perto de 262 milhões, favorecido por impacto financeiro positivo ligado aos créditos fiscais. A alavancagem recuou para cerca de 0,5x da Dívida Líquida sobre EBITDA, movimento impulsionado pelo recebimento de aproximadamente R$ 4,05 bilhões em créditos, o que melhora a capacidade de investimento da companhia. O BTG Pactual tem recomendação neutra para a companhia e preço-alvo à R$ 37 por ação.
No varejo, o Magazine Luiza registrou queda de 2,6% no GMV total, além de margem bruta ao redor de 31%. Mesmo assim, o EBITDA ajustado do varejo alcançou cerca de R$ 681 milhões, enquanto o lucro líquido ajustado avançou para R$ 21 milhões, superando a expectativa de resultado negativo. Além disso, o fluxo de caixa operacional ultrapassou R$ 500 milhões, o que permitiu caixa livre positivo apesar do aumento relevante do capex. A XP destacou que embora a disciplina das ações de MGLU em custos e capital de giro seja valorizado, a dinâmica desafiadora da receita pode persistir, especialmente com as recentes notícias sobre a fusão BHIA e MELI trazendo riscos adicionais. “Com isso, mantendo nossa recomendação Neutra“, destaca o relatório.
No setor financeiro, a Caixa Seguridade divulgou lucro líquido próximo de R$ 1,1 bilhão, com crescimento consistente nas linhas de previdência, consórcios e capitalização. As contribuições totalizaram aproximadamente R$ 13,8 bilhões, o que reforça a trajetória de expansão da plataforma. Nesse sentido, a empresa mantém perspectiva de aumento de captação e de receitas nos próximos trimestres. Para a XP, a companhia continua a executar com disciplina, equilibrando o crescimento em franquias principais de seguros e acumulação com geração robusta e alta eficiência de capital.
No segmento de educação, a Cogna apresentou receita acima de R$ 1,5 bilhão e EBITDA ajustado de cerca de R$ 423 milhões, com destaque para a Kroton, que registrou avanço no ticket médio e crescimento da base de alunos. Por outro lado, a inadimplência ajustada subiu para um patamar mais pressionado, o que impactou margens. Ainda assim, a alavancagem caiu para 1,1 vez, o que amplia a flexibilidade financeira para o próximo ano.
Outras ações para ficar de olho
Entre as empresas de propriedades, a HBR Realty divulgou receita próxima de R$ 50 milhões e EBITDA ajustado de aproximadamente R$ 20 milhões, enquanto o FFO permaneceu negativo por causa dos custos financeiros elevados. Enquanto isso, a vacância de escritórios seguiu próxima de zero, e o segmento de shoppings registrou desempenho estável, embora a unidade de oportunidades ainda apresente taxa elevada de espaços vagos devido a entregas recentes. O BTG destaca que apesar de um lucro fraco, os indicadores operacionais seguem razoáveis. “Mantemos recomendação de compra com preço-alvo à R$8“.
Na construção civil, a Mitre reportou receita líquida em torno de R$ 243 milhões, margem bruta próxima de 33,5% e lucro por ação de R$ 0,08. Além disso, a empresa controlou a queima de caixa e manteve a alavancagem em torno de 48%, o que contribui para preservar sua estrutura financeira em um período de demanda moderada. O trimestre foi considerado fraco, com desempenho financeiro e de geração de caixa sem surpresas. “Apesar de o papel negociar a 0,4x P/VPA e parecer descontado, o momento de resultados segue fraco, com expectativa de ROE em níveis baixos por mais tempo e alavancagem acima dos pares, justificando a recomendação neutra“, destaca o BTG Pactual.
Entre os bens de capital, a Tupy apresentou EBITDA ajustado perto de R$ 165 milhões e margem aproximada de 7%, resultado impactado por redução de volumes e por itens não recorrentes. Nesse sentido, o cenário desafiador no agronegócio e em veículos pesados continua a influenciar o desempenho, embora a empresa avance em programas de eficiência e em novos contratos industriais.
Outros destaques:
- Em utilities, a Alupar manteve desempenho estável com EBITDA regulatório consolidado em cerca de R$ 706 milhões e lucro líquido próximo de R$ 220 milhões. Além disso, novos ativos colocados em operação reforçaram a receita regulatória, enquanto o anúncio de dividendos próximos de R$ 98,9 milhões adiciona atratividade para investidores que buscam previsibilidade de fluxo.
- No varejo alimentar, o Assaí registrou receita de aproximadamente R$ 18,9 bilhões e SSS ajustado de 1,3%, abaixo das expectativas. Por outro lado, o controle de capex e a melhora gradual das margens operacionais contribuíram para reduzir a dívida líquida ajustada para cerca de R$ 13,4 bilhões.
- Entre as elétricas, a Energisa apresentou EBITDA ajustado superior a R$ 2 bilhões, apoiado pelo bom desempenho das distribuidoras e pelo avanço da ES Gás. Enquanto isso, a alavancagem permaneceu estável em torno de 3,2 vezes, e as perdas de energia recuaram levemente, sinalizando controle operacional em um portfólio amplo de concessões.
- Na moda, a Lojas Renner registrou SSS de 3,1% e EBITDA ajustado consolidado próximo de R$ 594 milhões. Além disso, a margem bruta apresentou leve expansão, apoiada pela gestão de estoques e pela menor necessidade de descontos ao longo do trimestre.
- Em petróleo e gás, a Petrobras superou estimativas com EBITDA ajustado ao redor de US$ 12 bilhões e anunciou dividendos de R$ 12,2 bilhões de reais. Nesse sentido, o aumento da dívida bruta para cerca de US$ 71 bilhões reduz a margem de segurança até o limite estabelecido e desloca o foco para o plano estratégico de 2026 a 2030.
- Por fim, a Suzano registrou EBITDA próximo de R$ 5,2 bilhões, com impacto negativo do câmbio e dos preços internacionais da celulose. Além disso, o fluxo de caixa livre ficou em torno de R$ 300 milhões, enquanto a alavancagem subiu para aproximadamente 3,3x, movimento que limita iniciativas de recompra de ações no curto prazo.
O que monitorar na abertura e ao longo do dia
Além disso, vale acompanhar a movimentação da curva de juros, o comportamento do câmbio e a evolução dos preços internacionais de petróleo e celulose, que influenciam diretamente várias ações das empresas citadas. Enquanto isso, as teleconferências de resultados podem trazer mais detalhes sobre capex, custos, preços e dinâmica de demanda. Nesse sentido, a combinação entre fundamentos financeiros e fluxo de notícias tende a definir os destaques do pregão desta sexta feira, com foco em qualidade operacional e capacidade de geração de caixa.