
Esta semana trago algumas análises sobre a principal commodity do mundo, o petróleo. Fonte de muitas discussões, análises geopolíticas e teorias conspiratórias, o petróleo já foi tema ou ator coadjuvante em muitos filmes, e vários famosos já cantaram algo relacionado a ele.
Como disse Dire Straits:
If you wanna run cool, you got to run
On heavy, heavy fuel
O petróleo “dá pano para manga”, mas foco aqui será falar mais sobre o momento atual e seus impactos no mercado.
Por que escrevo sobre o petróleo agora?
O preço do petróleo influencia os combustíveis que transportam todas as mercadorias que consumimos, afeta o preço de plásticos, contas de luz e gás, e até o asfalto… essa influência não se restringe somente aos produtos diretamente ligados a ele, mas se espalha na economia através de custos indiretos de transporte e/ou produção sobre diferentes produtos e serviços.
Ou seja, suas flutuações de preços têm impactos diretos no índice de inflação, que tem sido um tema central no mercado. Ao afetar a inflação, ele também pode influenciar as taxas de juros, consequentemente, os mercados de renda fixa e renda variável, e, portanto, ter impactos no desempenho da sua carteira. Por isso, ele é tão importante.
Dinâmica Recente
Após atingir o pico logo após a invasão da Ucrânia pela Rússia, o preço do petróleo apresentou uma queda relevante entre março de 2022 e julho de 2023 (vide gráfico abaixo), o que teve um efeito benéfico nos indicadores de inflação ao redor do mundo.
Abaixo está o gráfico do índice CPI (linha vermelha) comparado com os componentes de energia e combustíveis. Observa-se que esses são muito mais voláteis e nos últimos meses mostraram uma forte queda, o que contribuiu para a observação de números de inflação mais benignos.
Portanto, pode-se dizer que o petróleo auxiliou o trabalho dos bancos centrais pelo mundo nos últimos meses. No entanto, como observamos no primeiro gráfico acima, o petróleo já apresentou um aumento mais recente. Temos visto que o petróleo acumulou um aumento de mais de 25% desde as mínimas de julho.
Nova dinâmica?
Até aqui, o petróleo vinha auxiliando os trabalhos dos bancos centrais em controlar a inflação, mas as commodities em geral sofrem influência direta das forças de oferta e demanda, que ditam seus preços. Portanto, o que normalmente altera a dinâmica de preços é uma demanda forte e/ou uma produção menor, é simples assim.
Temos observado um mundo que está crescendo e, consequentemente, demandando mais petróleo. O crescimento do mundo hoje está diretamente relacionado ao consumo de petróleo. O gráfico abaixo mostra a evolução da demanda por petróleo e como ela parece estar voltando ao ritmo de crescimento pré-covid.
If you wanna run cool, you got to run
On heavy, heavy fuel

E essa demanda mais robusta parece estar ocorrendo em um momento complexo do lado da oferta.
China e Rússia
Como uma commodity global, o petróleo sofre influências tanto do consumo quanto da produção em todo o mundo. Com a guerra entre Rússia e Ucrânia, a Europa reduziu suas compras da Rússia, que passou a direcionar sua produção para a China – como pode ser visto no gráfico abaixo.
E ainda que o crescimento chinês esteja decepcionando ao longo do ano, a verdade é que, devido ao seu tamanho e relevância, a demanda chinesa ainda exerce impacto nesse mercado.
Cortes de produção
A economia americana resiliente eleva o consumo de combustíveis. Como mencionei anteriormente, a China também tem comprado petróleo em níveis elevados. Além disso, os países que atualmente têm maior capacidade de produção e, consequentemente, maior influência nos preços, vêm anunciando cortes na produção. Temos visto cada vez mais notícias sobre reduções na produção de petróleo nos últimos três meses.
Abaixo, as notícias desta semana:
Estoques Baixos…
Nos EUA, algumas coisas chamam a atenção.
Estamos no final do verão no hemisfério norte e nos aproximamos das estações mais frias, tradicionalmente períodos em que o consumo de combustíveis aumenta – aquecimento de casas, escritórios etc. E justamente neste momento, vemos os estoques de petróleo (considerando reservas especiais) muito baixos nos EUA, para ser mais específico, no menor nível desde 1985 – conforme o gráfico abaixo.
Essa queda se explica pelo consumo forte de uma economia mais resiliente do que se imaginava ou esperava, mas também devido às vendas para a Europa em meio a embargos ao petróleo russo – embora nesse sentido o petróleo russo esteja sendo direcionado para outros países, como mencionei anteriormente. Os EUA assumiram o papel de principal fornecedor de petróleo, substituindo a Rússia. Segundo o Departamento de Energia dos EUA, em 2022, as exportações totais de petróleo bruto dos EUA para a Europa atingiram 1,75 milhões de barris por dia, um aumento de cerca de 70% em relação aos níveis de 2021 (fonte). Isso representa uma grande reviravolta. Até então, a Rússia era o principal fornecedor de petróleo bruto do bloco, representando até 31% do total das importações até o final de janeiro de 2022, segundo o Eurostat (fonte).
Como forma de contrabalançar isso e repor reservas estratégicas, a produção americana atingiu novos recordes em 2023 – conforme o gráfico abaixo.
No entanto, a verdade é que ainda vemos estoques baixos tanto de petróleo quanto de gasolina. O gráfico abaixo apresenta na área cinza o intervalo médio de volume de petróleo e gasolina em estoques, de acordo com o Departamento de Energia Americano. Ambos estão nas mínimas das médias dos últimos 5 anos.
Ajuda da Natureza?
Por um lado, temos estoques baixos, cortes na produção e uma economia resiliente que poderiam pressionar os preços com a chegada do inverno.
Por outro lado, a natureza pode dar uma mãozinha e ajudar a controlar os preços.
O Centro de Previsão Climática dos EUA estimou a probabilidade de ocorrência do El Niño entre dezembro e fevereiro em mais de 95% (fonte) e ainda afirma que a maioria dos modelos mostra que este será forte. Um El Niño forte tende a produzir um impacto significativo e observável nos padrões climáticos. Em suma, um El Niño forte está geralmente associado a temperaturas de inverno mais altas do que a média nos Estados Unidos, especialmente na camada norte dos estados que se estendem de Washington, passando por Illinois, até o Maine, consequentemente, reduzindo o consumo e os preços do gás.
Será?
Conclusão
O petróleo parece estar enfrentando um cenário de oferta e demanda complexo, e já temos visto os preços respondendo a isso. Entramos em um momento importante do ano, com estoques baixos, o que pode manter os preços pressionados e, consequentemente, alimentar um cenário de inflação que exija taxas de juros mais altas por mais tempo. A recente alta já pode começar a pressionar os índices, e isso é algo a ser monitorado, pois pode alterar cenários e, consequentemente, impactar nossos investimentos.
Taticamente, pode fazer sentido se expor a algum ativo relacionado ao setor que apresentou desempenho inferior ao índice S&P no ano. Você pode fazer isso por meio de um ETF relacionado à commodity ou ao setor, ou ainda por meio de ativos diretos. Lembre-se de que todo e qualquer investimento deve ser pensado no contexto de sua carteira como um todo e de seu perfil de investidor.
Vale lembrar que na Avenue, priorizamos alocações estruturais de carteira com foco no longo prazo. Nesse sentido, os EUA já passaram por diferentes cenários de preços do petróleo, inflação e taxas de juros. Para a parcela estrutural, que deve compor a maior parte da carteira, entendemos que não são necessárias mudanças constantes para se ajustar a cenários específicos. É por isso que a chamamos de “alocação estrutural”.
Quer investir em renda fixa americana? Abra uma conta na Avenue.
*William Castro Alves é Estrategista-chefe da Avenue Securities
As opiniões transmitidas pelos nossos colunistas são de responsabilidade do autor e não refletem, necessariamente, a opinião da BM&C News.