O mercado de apostas esportivas e jogos de azar no Brasil está crescendo exponencialmente. Em 2023, 22 milhões de brasileiros participaram desse mercado, e a expectativa é que esse número aumente nos próximos anos, especialmente após a legalização das apostas.
No último episódio do programa BM&C Strike, a economista Ariane Benedito foi a convidada e falou sobre o impacto desse crescimento, e o quanto isso está interferindo diretamente no orçamento das famílias e na economia do país.
“Grande parte do dinheiro destinado às apostas acaba indo para empresas sediadas em paraísos fiscais, o que não só afeta a economia local, mas também reduz a circulação de capital no mercado de varejo”, explica Ariane. O desvio de recursos que poderiam ser investidos ou usados em lazer e educação está sendo direcionado para as plataformas de apostas, o que já superou os investimentos na Bolsa de Valores.
A economista destaca que o aumento do envolvimento com jogos de azar está provocando uma migração de recursos essenciais, como gastos com alimentação e habitação, para as apostas, gerando maior endividamento. “Estamos observando um crescimento da inadimplência, especialmente entre os jovens de 17 a 25 anos, que formam a maior parcela dos apostadores. Isso impacta negativamente o consumo familiar, uma das forças motrizes do PIB brasileiro”, explicou.
Além disso, o setor de varejo, que já enfrenta desafios com o aumento das plataformas digitais, é um dos mais prejudicados por esse desvio de recursos. “Muitas famílias deixam de consumir itens essenciais e discricionários para direcionar seus recursos às apostas online, afetando diretamente o desempenho do varejo e do setor de serviços”, alerta a economista.
O consumo de itens não essenciais, como roupas e bens de consumo duráveis, está diminuindo, enquanto o endividamento das famílias continua a crescer, principalmente entre as classes D e E. Ariane destaca que o varejo pode ser o primeiro setor a sentir esse impacto, seguido por outros setores essenciais, como alimentação e habitação.
Benedito também alerta para a necessidade urgente de uma regulamentação mais rigorosa no mercado de apostas. Apesar de o governo já ter implementado algumas medidas de arrecadação, a economista acredita que ainda há muito a ser feito para mitigar os impactos negativos das apostas na economia e proteger os consumidores vulneráveis.
“O Brasil precisa adotar uma regulação mais clara e criteriosa, tanto para as plataformas quanto para a publicidade, de forma semelhante ao que foi feito com bebidas alcoólicas e cigarros. É essencial também que se criem barreiras de entrada no mercado, a fim de evitar que mais empresas não regulamentadas prejudiquem a economia”, conclui.
Por fim, a economista ressalta a importância de promover a educação financeira para combater a falsa percepção de que apostas são uma forma de investimento. “Precisamos educar a população sobre os riscos envolvidos e enfatizar que o verdadeiro investimento requer planejamento e conhecimento, algo que muitas vezes falta em quem se envolve com apostas”, completa.