Em 2024 celebramos os 30 anos do Plano Real, um divisor de águas na história econômica do Brasil. Antes da implementação do plano, o Brasil vivia sob a sombra da hiperinflação, que corroía o poder de compra e tornava o planejamento financeiro pessoal e familiar uma tarefa impossível. A criação do Real em 1994 estabilizou a economia e abriu as portas para que os brasileiros pudessem começar a pensar em termos de poupança, investimentos e na construção de um futuro financeiro mais sólido.
Antes do Plano Real, os índices de inflação eram verdadeiramente alarmantes. Em 1993, por exemplo, a inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) chegou a 2.477,15% ao ano. Em um cenário de hiperinflação, salários e economias eram corroídos em questão de dias. Muitos corriam para os supermercados logo após o pagamento, na tentativa de gastar o dinheiro antes que ele perdesse valor. Esse contexto impedia qualquer forma de planejamento financeiro de longo prazo. O foco era sobreviver ao caos econômico.
A chegada do Plano Real trouxe a estabilização da moeda e a queda drástica da inflação. Em 1995, a inflação já havia sido reduzida para 22,41% e, em 1996, para 9,56%, uma mudança monumental em comparação com os anos anteriores. Desde então, a inflação tem se mantido controlada com uma média anual de cerca de 6%, permitindo que os brasileiros finalmente começassem a poupar, investir e pensar no futuro com mais clareza.
A estabilidade monetária também permitiu que a renda do brasileiro crescesse de forma mais alinhada à inflação. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o salário médio real do trabalhador brasileiro cresceu 33,4% entre 1995 e 2022, quando descontada a inflação. Isso significa que os brasileiros, embora ainda enfrentem desafios econômicos, têm conseguido preservar parte do seu poder de compra, o que é um avanço importante em relação aos tempos de hiperinflação.
Além disso, a estabilização econômica trouxe consigo a expansão do crédito. Antes do Plano Real, as taxas de juros exorbitantes e a volatilidade tornavam o crédito inacessível para a maioria das pessoas. Com a estabilização, tornou-se possível financiar a compra de imóveis, veículos e outros bens de consumo, permitindo que o planejamento financeiro familiar fosse ampliado para incluir o uso responsável do crédito como ferramenta de construção patrimonial.
Essa transformação econômica proporcionou um cenário mais alvissareiro ao planejamento financeiro de longo prazo. Produtos de previdência privada e fundos de investimento se tornaram instrumentos acessíveis para quem busca construir um futuro mais seguro. O mercado financeiro brasileiro evoluiu significativamente, e o acesso a uma gama diversificada de produtos financeiros como títulos do Tesouro Direto, fundos de investimento, ações e até criptomoedas possibilitou aos brasileiros planejar com mais eficiência.
Apesar das melhorias, o cenário econômico brasileiro ainda apresenta desafios. A alta carga tributária, a desigualdade de renda e a instabilidade política continuam sendo barreiras para muitos brasileiros. No entanto, os 30 anos do Plano Real mostram que, com disciplina e uma política econômica estável, é possível criar um ambiente que favorece o planejamento financeiro.
A grande pergunta que fica é: por que, mesmo após 30 anos de estabilidade monetária, muitos brasileiros ainda não incorporaram o planejamento financeiro em suas vidas? A resposta pode estar em um comportamento herdado dos tempos de hiperinflação, quando o consumo imediato era uma medida defensiva contra a perda de poder de compra. Esse hábito de priorizar o curto prazo ainda persiste, mesmo em um cenário de inflação controlada. A falta de educação financeira agrava essa questão, fazendo com que muitos brasileiros vivam sem planejar o futuro.
Se a estabilização econômica foi o primeiro passo para a construção de um ambiente favorável ao planejamento financeiro, o próximo passo deve ser a disseminação da educação financeira. Muitas vezes, o planejamento financeiro é visto como algo complexo e inacessível mas, na realidade, ele é uma prática essencial para garantir a segurança e o crescimento patrimonial ao longo da vida. Com o cenário atual, onde a inflação é controlada e os produtos financeiros estão mais acessíveis, os brasileiros têm uma oportunidade única de desenvolver o hábito de planejar suas finanças e, assim, garantir um futuro mais estável.
O planejamento financeiro é o caminho para a prosperidade e ele deve começar com a conscientização de que não se trata apenas de poupar ou investir, mas de alinhar o uso dos recursos disponíveis com os objetivos de vida.
Ao celebrarmos os 30 anos do Plano Real, não podemos esquecer de reconhecer tudo o que foi conquistado até aqui. O Brasil saiu da escuridão da hiperinflação para um cenário de controle monetário que possibilitou o crescimento da renda, o acesso ao crédito e o desenvolvimento do mercado financeiro. É uma verdadeira festa da estabilidade econômica e você, brasileiro, está convidado a fazer parte desse evento.
Porém, como em toda boa festa, a celebração só será completa se cada um de nós souber aproveitar as oportunidades. O Plano Real nos deu a chance de melhorar nossas vidas financeiras, mas agora é nossa responsabilidade exercitar nossa capacidade de planejar, poupar e investir para garantir um futuro mais próspero. Afinal, na festa do progresso econômico, o verdadeiro presente é o que podemos construir com inteligência e disciplina para os próximos anos.
Carlos Castro é planejador financeiro pessoal, CEO e sócio fundador da plataforma de saúde financeira SuperRico.