
No último domingo (8), a população brasileira se voltou a Brasília onde bolsonaristas radicais acabaram invadindo e depredando o Congresso Nacional, o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Palácio do Planalto, sede da Presidência da República, em Brasília. O cenário acabou levando vários especialistas a categorizar o ato como terrorista, trazendo consequências como a prisão de centenas de pessoas, um possível impeachment do governador do Distrito Federal e o decreto de intervenção na segurança do DF.
Mediante a essa avalanche de acontecimentos, a pergunta que fica é: como fica a visão dos investidores estrangeiros e como essa instabilidade política pode afetar investimentos internacionais no Brasil? Para responder a essa pergunta, os especialistas consultados pela BM&C News afirmam que tudo vai depender da forma com que o Governo Federal vai conduzir a situação e é imprescindível mostrar a força dos três poderes e a solidez da democracia brasileira.
“Pode ser que esse episódio nem chegue a impactar o mercado brasileiro porque as decisões em relação aos investimentos estrangeiros são tomadas com prazos maiores de análise e com uma maior reflexão sobre o país e seu mercado. Entretanto, se essa crise política permanecer durante semanas ou meses, aí sim poderíamos ver um impacto dos investimentos estrangeiros no Brasil”, explica Rica Mello, economista, professor e especialista em gestão de negócios.
Ainda em sua análise, Mello afirma acreditar que os ataques anti-democráticos em Brasília poderão impactar o mercado de forma pontual, mas apenas nos próximos dias. “Não acredito que tenha grandes impactos nos investimento estrangeiros, mas sim um impacto pontual na cotação do dólar e nas cotações de juros que são os mercados mais voláteis e que respondem mais rápido a crises pontuais. Ainda sim a gente tem visto nesta manhã de segunda-feira, tanto o dólar como a bolsa, nenhum dos dois apresenta um grande impacto “, explica.
Então já podemos respirar aliviados?
Apesar de não ter apresentado grandes impactos, os especialistas afirmam que essa instabilidade política precisa ser controlada já agora no começo, uma vez que outros episódios podem gerar mais estragos no futuro, caso se repitam várias vezes.
Em entrevista a BM&C News, o Prof. Vladimir Feijó, doutor em Direito Internacional pela PUC Minas, advogado e professor de direito e comércio exterior da Faculdade Arnaldo, explicou que o mercado extrangeiro está de olho nos próximos passos de Lula.
“A análise de investidores produtivos, diferentes investidores especulativos, se dá em um projeto de médio e longo prazo, e o compromisso que eles desejam do Estado brasileiro e como todo o aparato das instituições nacionais, é a segurança jurídica, portanto tudo depende do que acontecerá como resposta [aos ataques em brasília]. Portanto, ações como a unidade entre as chefias dos poderes, convocatória de uma provável reunião da esmagadora maioria dos governadores estaduais, notas públicas das federações, notas públicas da Associação dos Magistrados, notas do Ministério Público podem servir para acalentar suspeitas de quebra do estado de direito, evitando assim atrasos em investimento produtivos planejados. É importante salientar que o governo Bolsonaro deixou um saldo positivo de investimentos prováveis de R$ 84 bilhões que podem destravar algumas barreiras da nossa economia”, afirma Feijó.
Antos bolsonaristas fortalecem governo Lula
Os atos em Brasília são uma extensão das manifestações de apoiadores do ex-presidente, Jair Bolsonaro, insatisfeitos com os resultados das eleições presidenciais de 2021. Apesar de serem contrários ao governo atual, os atos radicais desses apoiadores acabaram favorecendo o governo petista.
Para Uriã Fancelli cientista político, especializado de relações internacionais e autor do livro Populismo e Negacionismo, acredita que esse episódio pode levar a um esvaziamento do bolsonarismo. “Pode haver agora um fortalecimento do governo Lula já que agora as atenções não estão mais voltadas às decisões polêmicas das últimas semanas, como os comentários de alguns ministros de reverter reformas que foram conquistadas no governo Bolsonaro. É como se a tradicional cortina de fumaça tivesse sido criada por bolsonaristas em prol do governo Lula”, explica Fancelli.
Além disso, ele analisa que esse episódio também justifica uma ação mais enfática do governo Federal para acabar com bloqueios em estradas e acampamentos bolsonaristas na frente de quartéis, bem como a demissão do secretário de segurança pública do DF e por último um possível impeachment do governador do Distrito Federal e o decreto de intervenção na segurança do DF.