O governo central registrou déficit primário de R$ 20,2 bilhões em novembro, segundo dados divulgados pelo Tesouro Nacional. O resultado representa uma deterioração relevante em relação ao mesmo mês do ano passado, quando o déficit foi de R$ 4,5 bilhões, e ficou bem abaixo do consenso de mercado e das projeções das instituições financeiras.
De acordo com análise da XP, assinada pelo economista Tiago Sbardelotto, o resultado foi impactado principalmente por maiores gastos discricionários e por uma queda expressiva das receitas extraordinárias, além de efeitos pontuais relacionados à devolução de depósitos judiciais.
No acumulado de 2025, o governo central registra déficit primário de R$ 83,2 bilhões, enquanto o resultado em 12 meses chega a R$ 59,7 bilhões, equivalente a -0,47% do PIB.
Receitas recuam com menos dividendos e devoluções judiciais
As receitas líquidas do governo central caíram 4,8% em termos reais na comparação anual em novembro. Apesar do desempenho positivo das receitas administradas pela Receita Federal, o impacto foi neutralizado pela forte retração das receitas não tributárias.
Segundo a XP, as receitas administradas cresceram 5,2%, impulsionadas pelo avanço do Imposto de Renda (5,9%), especialmente sobre rendimentos do trabalho e IRPJ, além da alta expressiva do IOF (41,4%), reflexo do aumento de alíquotas implementado meses atrás. As contribuições previdenciárias avançaram 6,9%, indicando um mercado de trabalho ainda resiliente.
Por outro lado, as receitas não administradas pela Receita Federal recuaram 52,5%, pressionadas por uma queda de 84,5% nos dividendos e participações acionárias, em comparação com 2024, quando houve ingresso relevante de dividendos do BNDES, sem repetição neste ano. Também pesaram reembolsos de depósitos judiciais, ligados à dívida ativa, no valor de R$ 6,2 bilhões.
No acumulado do ano, a receita líquida ainda apresenta crescimento real de 2,9%, sustentada pelo imposto de renda, contribuição previdenciária e IOF.
Gastos avançam puxados por despesas discricionárias
Do lado das despesas, os gastos totais do governo central cresceram 4,0% em termos reais em novembro. O principal vetor foi a forte expansão dos gastos discricionários, que avançaram 27,3%, refletindo uma execução mais intensa de emendas parlamentares, além de maiores despesas com saúde e educação.
As despesas obrigatórias também contribuíram para o aumento, com alta de 3,9% nos benefícios previdenciários e de 6,6% no BPC/LOAS. A XP chama atenção para o elevado estoque de pedidos represados nesses programas, que atingiu recorde histórico de 2,9 milhões de solicitações em outubro, segundo os dados mais recentes disponíveis.
No acumulado de 2025, as despesas totais aumentaram 3,4%, puxadas principalmente por previdência (4,0%), pessoal (3,7%) e BPC/LOAS (9,5%).
Resultado primário fica distante da meta
Segundo a XP, o aumento dos gastos discricionários, combinado com uma receita negativa em novembro, explica a piora do resultado primário no mês. O déficit necessário para o cumprimento da meta atingiu R$ 40,6 bilhões, cerca de R$ 9 bilhões abaixo do limite inferior da meta, o que mantém o resultado dentro da banda permitida, mas com menor margem de segurança.
“O movimento era em grande parte esperado, dado o calendário de execução das despesas discricionárias, mas a frustração de receitas foi mais intensa do que o previsto”, avalia Sbardelotto na nota.
A projeção atual da XP para o fechamento de 2025 é de um déficit primário de R$ 55,9 bilhões, equivalente a 0,4% do PIB. Excluídas as exceções previstas no cálculo da meta, o déficit seria de R$ 11,4 bilhões (0,1% do PIB), ainda acima do limite inferior da meta, fixado em -R$ 31,0 bilhões.












