O Brasil abriu 85,1 mil vagas formais de trabalho em outubro, segundo dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) divulgados nesta quinta-feira (27) pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). Embora o saldo seja positivo, o resultado representa uma queda de 35% na comparação com outubro de 2024, quando foram criados 131,6 mil empregos com carteira assinada.
Esse também é o pior desempenho para um mês de outubro desde 2020, ano em que o novo modelo do Caged passou a integrar informações mais amplas e detalhadas sobre admissões e desligamentos.
Caged: Acumulado do ano e salário de admissão
De janeiro a outubro, o país acumulou a criação de 1,8 milhão de postos formais. O salário médio de admissão no mês ficou em R$ 2.304,31. Segundo os dados, 67,7% das vagas abertas em outubro foram classificadas como típicas, enquanto 32,3% se enquadram como não típicas, como contratos intermitentes ou temporários.
Dos cinco principais grupos de atividade econômica, apenas dois tiveram saldo positivo:
- Serviços: +82 mil vagas
- Comércio: +25,6 mil vagas
Os demais registraram recuo no nível de emprego:
- Construção: –2,9 mil
- Agropecuária: –9,9 mil (Demissões concentradas em: cultivo de alho, cana-de-açúcar e laranja)
- Indústria: –10 mil (Baixas mais intensas no segmento de fabricação de açúcar bruto)
Saldo por estado
Em outubro, 21 das 27 unidades da federação tiveram saldo positivo de empregos. Os destaques foram:
- São Paulo: +18,4 mil
- Distrito Federal: +15,4 mil
- Pernambuco: +10,6 mil
Entre os estados com pior desempenho:
- Minas Gerais: –4,8 mil
- Goiás: –2,3 mil
A retração nos setores agropecuário e industrial pesou sobre o resultado nacional, enquanto o setor de serviços seguiu como o principal motor da criação de vagas. A combinação de um mercado de trabalho ainda aquecido com sinais de desaceleração em segmentos específicos deve permanecer no radar dos analistas nos próximos meses.
Interpretação dos dados
O economista Leonardo Costa, do ASA, avalia que os dados reforçam um processo consistente de desaceleração do mercado de trabalho. Segundo ele, o avanço de 52,8 mil vagas com ajuste sazonal e a queda da média móvel de três meses para 69 mil mostram “uma perda de fôlego gradual, já esperada diante do arrefecimento da atividade”.
Segundo Costa, a composição do emprego também revela esse arrefecimento: serviços responderam praticamente pelo saldo total, enquanto indústria e construção voltaram ao terreno negativo, refletindo a sensibilidade desses segmentos ao ciclo econômico. “O comércio mostrou apenas uma leve alta, compatível com uma antecipação moderada das contratações de fim de ano, e a agropecuária registrou queda associada ao período de entressafra“, avalia.
Regionalmente, o economista observa que os resultados positivos em grande parte das unidades da federação convivem com recuos relevantes em estados como Minas Gerais e Goiás, sinalizando um mercado menos homogêneo. No recorte por características individuais, o avanço ocorreu principalmente entre trabalhadores jovens e de menor renda, faixas mais sensíveis ao ritmo da atividade e mais expostas à rotatividade.
Já o salário médio real de admissão permaneceu praticamente estável, o que, na avaliação de Costa, reforça a leitura de que a oferta e demanda por trabalho se equilibram em patamar mais frio. Para ele, o conjunto dos dados indica “um mercado que ainda não mostra deterioração abrupta, mas que claramente transita para uma fase de menor dinamismo”.













