A Americanas e o Magazine Luiza anunciaram uma parceria estratégica para integrar parte de seus catálogos nos marketplaces, ampliando o sortimento disponível e criando oferta cruzada de produtos entre as plataformas. O acordo surge em um momento crucial para o setor, especialmente para a Americanas, que tenta reconstruir sua presença digital após a forte deterioração provocada pelo escândalo contábil revelado em 2023.
A união aproveita a complementaridade entre os portfólios das duas varejistas. Como explica o especialista em varejo e sócio da Essentia Consulting, Acilio Marinello, a Magalu concentra suas vendas próprias em categorias como linha branca, linha marrom, eletrodomésticos, móveis e eletrônicos. Já a Americanas opera com um sortimento mais amplo e pulverizado. “A Americanas tem utilidades domésticas, higiene pessoal, itens de ticket baixo como chocolates, doces, e ainda linhas de vestuário e moda íntima”, afirma. Para ele, essa diferença cria uma oportunidade clara: “Existe, de fato, um benefício mútuo em fazer essa oferta cruzada, colocando o sortimento da Magalu no ambiente da Americanas e o sortimento da Americanas no ambiente da Magalu.”
Embora o acordo traga vantagens para ambas, Marinello reforça que a Americanas é a principal beneficiada neste momento. “A Americanas vem perdendo espaço no digital desde quando estourou o escândalo. Isso afetou muito a reputação da empresa e gerou uma desconfiança enorme nos consumidores”, diz. Segundo ele, a insegurança do público se refletiu diretamente nas vendas. “No último balanço, a queda no digital entre o 3T24 e o 3T25 foi de 74,6%. É uma queda absurda para quem já foi uma potência do e-commerce no Brasil.”
Para o especialista, a parceria representa uma alavanca importante dentro do processo de reconstrução da Americanas, que está em recuperação judicial. “É uma forma de alcançar novos clientes no digital, talvez até reconquistar parte da confiança perdida. Isso pode trazer receitas novas e ganhos secundários, como melhora da reputação”, avalia.
Do lado da Magalu, o movimento proporciona exposição adicional e ampliação de oferta. Ainda assim, Marinello ressalta que o acordo não altera o maior desafio competitivo da empresa. “Quando a gente olha Amazon e Mercado Livre, a distância ainda é muito grande em termos operacionais”, diz. Ele lembra que as líderes investiram pesadamente em logística nos últimos anos, o que permite estratégias agressivas. “A Amazon anunciou frete grátis para compras a partir de R$ 19 porque já tem uma operação muito enxuta. A Magalu não consegue acompanhar isso hoje. A distância não diminuiu; aumentou.”
No pano de fundo, a parceria revela um varejo digital brasileiro cada vez mais concentrado, pressionado pelos players internacionais e pela necessidade de escala, eficiência logística e confiança do consumidor. Para Marinello, movimentos colaborativos tendem a se intensificar. “O mercado exige agilidade e escala. Parcerias podem ser caminhos relevantes para competir.”
Para a Americanas, o acordo marca um passo simbólico e prático na tentativa de reconstruir relevância no e-commerce. Para o Magazine Luiza, reforça sortimento e presença, embora sem mudar a dinâmica de disputa com Amazon e Mercado Livre.
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