A prioridade número 1 do governo federal é a reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Os esforços do Planalto estão cada vez mais direcionados para a aprovação de medidas que serão utilizadas na campanha do ano que vem e que sirvam de ganchos para ações de marketing para sensibilizar o eleitor. Neste jogo, as verbas de divulgação são importantíssimas. Por isso mesmo, o governo acaba de elevar o orçamento de comunicação para R$ 876 milhões, em um aumento de R$ 116 milhões sobre os gastos previstos. Em um ano em que o déficit público deverá ficar ente R$ 26 bilhões e R$ 75 bilhões, o governo está gastando o que não tem para ficar bem na fita.
Para se ter uma ideia, a soma dos orçamentos da Secom de 2024 e de 2025 são quase do mesmo tamanho de toda a verba despendida nos quatro anos de Jair Bolsonaro. De 2019 e 2022, gastou-se R$ 1,489 bilhão; já no biênio 2024-2025, os gastos ficarão em R$ 1,476 bilhão.
Não se trata exatamente de uma novidade: governos sempre torram o dinheiro público em busca da reeleição. No mandato anterior, ocorreu algo parecido. A diferença é que Bolsonaro buscou um caminho alternativo e fechou o ano de 2022 com um superávit fiscal de R$ 54,1 bilhões, mantendo os custos de comunicação ligeiramente menores que os de 2021. O pulo do gato foi a PEC Kamikaze, que jogou uma conta de R$ 41,2 bilhões para o governo seguinte (com isso, o programa Auxílio Brasil foi turbinado, juntamente com um pacote de bondades com vistas ao pleito de 2022).
De qualquer maneira, a administração federal está às voltas com a necessidade de cumprir as regras do arcabouço fiscal. Em tese, deveria cortar despesas em todos os seus ministérios. Mas o da Comunicação – imprescindível para divulgar as realizações de Lula – não só permanece com o orçamento intocado como ainda será inflado.
O que se vê, assim, é uma inversão de prioridades. Enquanto áreas como saúde, educação e segurança pública enfrentam restrições orçamentárias, a comunicação institucional recebe tratamento privilegiado. O governo parece mais preocupado em construir uma narrativa positiva do que em enfrentar os gargalos reais da administração. A propaganda virou política pública e o contribuinte paga a conta.
A justificativa oficial para o aumento da verba é a necessidade de “dar amplo conhecimento à sociedade das políticas e programas do Poder Executivo federal”, segundo nota emitida pelo governo. Mas informar não é o mesmo que convencer. A linha entre comunicação institucional e marketing político está cada vez mais tênue. Campanhas que exaltam feitos do governo, muitas vezes com interpretações generosas, têm como objetivo reforçar a imagem do presidente e preparar terreno para 2026. O que vemos é algo manjado: o uso da máquina pública para fins eleitorais, disfarçado de prestação de contas.
O aumento da verba de comunicação em meio a um cenário fiscal delicado revela uma contradição gritante. O governo que se diz comprometido com responsabilidade fiscal resolve mandar a austeridade às favas e gastar mais justamente na área que trabalha a imagem do presidente. Infelizmente, o aumento das verbas federais de comunicação mostra como funciona a mentalidade do gestor público, algo que extrapola o modo de pensar do petismo: os fins sempre justificam os meios quando se trata de eleição.