O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o líder chinês, Xi Jinping, se reuniram nesta quinta-feira (30), na Coreia do Sul, no primeiro encontro presencial entre os dois desde 2019. A conversa durou quase 2 horas e resultou em um acordo que estabelece uma trégua de um ano nas tensões comerciais entre as duas maiores economias do mundo. O encontro encerrou a viagem asiática de Trump, que incluiu compromissos no Japão, na Coreia do Sul e em países do Sudeste Asiático.
Trump classificou a reunião como “incrível” e deu nota “12 de 10” para o diálogo. Segundo ele, o encontro marcou uma nova etapa nas negociações bilaterais, com avanços em temas econômicos, no combate ao tráfico de fentanil e em acordos sobre exportações estratégicas, como terras raras e produtos agrícolas. As autoridades dos dois países afirmaram que o foco agora será buscar estabilidade nas relações e ampliar a cooperação comercial.
Trump e Xi Jinping: China adia controle sobre exportações de terras raras
Entre os principais resultados do encontro, a China concordou em adiar por um ano a aplicação de uma nova rodada de controles sobre exportações de terras raras, minerais essenciais para os setores de tecnologia, defesa e automotivo. Apesar do adiamento, continuam em vigor as restrições impostas em abril, que limitam a venda de sete tipos de minerais e ímãs usados em componentes estratégicos.
Trump declarou que a questão das terras raras está “resolvida”, mas especialistas avaliam que o anúncio mantém Pequim com ampla margem de manobra. A suspensão temporária não implica aumento nas exportações para os Estados Unidos, mas oferece alívio parcial a indústrias que dependem desses insumos. Ainda assim, o gesto sinaliza disposição mútua em reduzir tensões comerciais sem alterar o equilíbrio de poder no setor.
Trump reduz tarifas e busca reequilíbrio comercial
Durante a coletiva após o encontro, Trump anunciou a redução das tarifas sobre produtos chineses de 57% para 47%. A medida, segundo ele, faz parte de um esforço para reequilibrar o comércio bilateral e aliviar as tensões acumuladas nos últimos meses. O governo chinês confirmou o compromisso de continuar as negociações e de buscar estabilidade nas relações econômicas.
Além disso, Trump anunciou a queda das tarifas sobre produtos chineses relacionados ao fentanil, de 20% para 10%. A decisão foi tomada em reconhecimento ao compromisso de Pequim em combater o fluxo ilegal do opioide sintético para os Estados Unidos. O presidente destacou que Xi Jinping “trabalhará com dedicação para interromper o fluxo de fentanil”, uma das principais causas de overdose no país.
O que ficou de fora das negociações entre Trump e Xi Jinping?
Apesar das sinalizações positivas, o encontro não incluiu discussões diretas sobre o chip Blackwell da NVIDIA, tema que havia gerado expectativas no mercado. Trump afirmou que o assunto “não foi sobre a Blackwell”, embora semicondutores tenham sido mencionados. A ausência do tema reforça a manutenção das restrições impostas pelo governo americano à exportação de chips avançados para a China.
Outro ponto abordado no encontro foi o impasse envolvendo o TikTok. O Ministério do Comércio da China afirmou que cooperará com os Estados Unidos para buscar uma solução diplomática sobre o futuro da plataforma no país. A declaração mostra disposição de ambas as partes em avançar, embora ainda não haja detalhes concretos sobre medidas práticas para encerrar a disputa.
Enquanto isso, Trump retorna a Washington para avaliar os próximos passos das negociações, enquanto Xi Jinping permanece na Ásia para fortalecer alianças regionais. Apesar do tom otimista adotado após a reunião, permanecem em aberto temas sensíveis, como tarifas comerciais, o controle de exportações estratégicas e a competição por liderança em inteligência artificial e manufatura avançada.
Cessar-fogo ou paz duradoura?
Para o economista e doutor em Relações Internacionais, Igor Lucena, o resultado do encontro entre Donald Trump e Xi Jinping representa mais um momento de cessar-fogo do que uma paz duradoura. “Na prática, foi um ganha-ganha. O acordo trouxe avanços relevantes, como a retomada das compras de produtos agrícolas e a suspensão de restrições sobre exportações de terras raras, mas o cenário ainda inspira cautela“, destaca o especialista.
Lucena destaca que a China enfrenta um crescimento mais lento, possivelmente abaixo de 4%, e busca reformular seu plano plurianual para impulsionar a economia. Para o economista, a trégua de um ano é positiva, mas temporária, e reflete um mundo em que as relações entre Estados Unidos e China oscilam entre momentos de tensão e distensão. “Os dois lados, quando se sentirem pressionados por parceiros internacionais ou por temas internos, podem voltar com ataques econômicos.“
Ele observa ainda que, embora Pequim tenha mostrado disposição em negociar, permanece vetado o acesso aos chips de alta tecnologia da NVIDIA, mantendo viva a disputa estratégica entre as potências. “O ponto que mais me surpreendeu foi o fato da China ter concordado com tudo, mas não vai receber os chips de mais alta tecnologia da NVIDIA. Isso continua vetado pelos Estados Unidos.“
O silêncio do que não foi dito fala mais alto do que o que foi dito
O economista VanDyck Silveira também avaliou que a trégua representa apenas uma pausa tática, e não uma pacificação real. “O acordo reflete a predominância da pragmática sobre o radicalismo nas relações internacionais, mas não elimina a rivalidade estrutural entre as duas potências“, avalia. Silveira comparou o momento atual ao embate comercial entre Estados Unidos e Japão nas décadas de 1980 e 1990, marcado por ciclos de tensão e distensão.
Ele destacou ainda que temas sensíveis, como o controle sobre microprocessadores e terras raras, ficaram fora da mesa de negociações, o que, em sua visão, demonstra que o conflito pode retornar a qualquer momento. “O silêncio do que não foi dito fala mais alto do que o que foi dito”, afirmou o economista, ao ressaltar que a trégua dá apenas um breve alívio ao mundo, sem representar uma solução definitiva para a disputa geoeconômica.
Ambos os lados estão guardando cartas na manga
O especialista em análise macro Fabio Fares avaliou que o saldo do encontro foi positivo e trouxe um sinal de alívio temporário ao cenário global. “A redução tarifária anunciada, com a China passando a pagar menos tarifas aos EUA, de cerca de 58% para 48%, ajuda a aliviar pressões inflacionárias, um dos principais temores do mercado“, destacou. No entanto, ele destacou que a trégua tem caráter estratégico e calculado, já que “ambos os lados estão guardando cartas na manga e divulgando as medidas aos poucos, para não dar munição a críticos nem gerar ruído político”.
Para o especialista, o ponto mais relevante foi a mudança de percepção global: após meses de tensão, ficou claro que nem os EUA nem a China desejam uma ruptura completa, mas sim uma coexistência pragmática. “Eles precisam um do outro, apesar das divergências”, concluiu Fares, ressaltando que o gesto reforça o interesse mútuo das duas potências em evitar choques e preservar a estabilidade econômica internacional.
Nvidia fica de fora da pauta do encontro de Trump com Xi Jinping
Fabio Fares também avaliou que o silêncio em torno da tecnologia de chips da Nvidia não deve ser interpretado como ausência de diálogo, mas como sinal de alta sensibilidade estratégica. “O fato de o CEO da Nvidia, Jensen Huang, ter sido convidado por Trump para viajar à Coreia do Sul indica que negociações estão em curso nos bastidores. Fares ressaltou que a ausência de anúncios oficiais sobre semicondutores foi uma decisão deliberada, uma vez que “há muita torcida contra e ruído político que poderia prejudicar as tratativas”.
Ele destacou ainda que, embora a China não deva ter acesso imediato aos chips mais avançados da Nvidia, há indícios de que um acordo técnico e comercial está sendo costurado gradualmente. Para Fares, o episódio demonstra que Washington e Pequim buscam um equilíbrio entre segurança tecnológica e interesse econômico, evitando movimentos que possam reacender tensões geopolíticas no curto prazo.
 
			



 














