Imagine alguém que ganha R$ 10 mil por mês, mas gasta R$ 13 mil. Todo mês, esse alguém usa o cheque especial para fechar as contas. E não para por aí: pega empréstimos caros, paga juros altíssimos e, em vez de ajustar o padrão de vida, continua assumindo novos compromissos. Vai empurrando a dívida pra frente, sem saber quando ou se vai conseguir pagar.
É exatamente assim que pensa e age o governo brasileiro.
O Planalto apresentou o orçamento para 2026, no qual promete um superávit de R$ 34,3 bilhões, mas a Instituição Fiscal Independente (IFI), órgão técnico do Senado, calcula algo bem diferente: déficit de R$ 30 bilhões. Uma diferença de R$ 64 bilhões. A conta não fecha. E, ainda assim, o governo aumenta investimentos, amplia o Novo PAC, reforça o Auxílio Gás e projeta crescimento maior que o mercado inteiro espera.
É aqui que surge a pergunta: qual o coelho que o governo pretende tirar da cartola?
O cenário externo também não ajuda. Com tensões geopolíticas crescentes e os impactos do tarifaço de Donald Trump sobre exportações brasileiras, a arrecadação se torna ainda mais incerta. Mas, em vez de buscar negociação e estratégia, o governo parece dobrar a aposta no conflito. O presidente insiste em criticar abertamente Trump, ignorando que os Estados Unidos são um dos nossos principais parceiros comerciais. Num momento em que seria necessário diplomacia, pragmatismo e defesa dos interesses nacionais, o Brasil prefere apostar na retórica política e quem paga essa conta são as nossas empresas e o nosso comércio exterior.
Os sinais de alerta estão por todos os lados. Os índices de confiança despencam em todos os setores: consumidores, empresários, comércio, serviços, indústria e construção. E a tão celebrada deflação do IPCA-15 em agosto? Um alívio enganoso. Por trás da queda pontual nos preços ao consumidor, o IGP-M subiu, mostrando que os custos de produção continuam aumentando. Ou seja, o problema não foi resolvido, foi apenas empurrado para frente, como o cheque especial.
E quando o governo não controla os gastos, precisa se financiar: isso significa juros mais altos, crédito mais caro, menos investimento, menos emprego e crescimento travado.
O problema vai além de gastar demais: gastamos mal. O dinheiro público some em programas ineficientes, em benefícios sem critério e em investimentos que não entregam retorno para a sociedade. Os serviços básicos não funcionam, a infraestrutura não avança, e não existe nenhuma mensuração séria sobre a qualidade dos gastos públicos. Esse debate, aliás, merece um artigo só para ele.
Mas a reflexão fica: até quando vamos aceitar pagar cada vez mais impostos para financiar um Estado que devolve cada vez menos? Até quando vamos assistir a sucessivas promessas, metas irreais e discursos otimistas, enquanto a conta não fecha e o país continua sem estratégia? Uma hora, a conta chega e, está quase chegando, mas aí não será o governo que pagará: somos nós, cidadãos, que vamos sentir o peso no bolso.
















