A Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), maior instituição pública de ensino superior do país, volta ao centro de um debate delicado, dada a relevância da autorização do governo federal para vender parte de seu patrimônio e garantir o funcionamento de suas atividades.
Nesta sexta-feira (29), é realizada uma audiência pública para discutir a venda de 11 andares do edifício Ventura Corporate, no centro do Rio.
O edifício e suas características

A torre tem 146 metros de altura e área de 8.550 m², contando com cinco subsolos, 36 andares, 16 elevadores e heliporto. Com esses números, é classificada como empreendimento de alto padrão (classe A+ e A) desde 2018. O prédio foi construído em terreno da própria universidade e, ao longo dos anos, parte de suas unidades já foi comercializada, como para a BR Properties e o BTG Pactual.
O edifício recebeu a certificação Leed (Leadership in Energy and Environmental Design), concedida pela ONG americana U.S. Green Building Council, por atender a uma série de exigências sustentáveis, como uso racional de água e energia, descarte adequado de entulho e reciclagem de lixo.
Entre os recursos de eficiência energética está o uso de vidros especiais que garantem iluminação natural sem aquecer excessivamente o interior, reduzindo gastos com ar-condicionado e iluminação.
Estratégia emergencial da reitoria
A reitoria da UFRJ argumenta que a medida não é apenas uma venda, mas uma estratégia de sobrevivência. Em julho do ano passado, um projeto semelhante foi apresentado, prevendo a permuta desses andares por mais de 71 mil metros quadrados em obras em diferentes campi, incluindo áreas de saúde, química, letras e matemática.
Ainda assim, a percepção pública é de que a universidade, em vez de preservar ou ampliar seu patrimônio, vem progressivamente se desfazendo dele para garantir o presente.
A frase do atual reitor, Roberto Medronho, “estamos vendendo o almoço para comprar o jantar”, sintetiza bem a gravidade do cenário. O problema é que essa metáfora também expõe a limitação da estratégia: não se trata de um plano sustentável, mas de uma resposta emergencial que pode comprometer ainda mais o futuro da instituição.

Críticas à gestão patrimonial na UFRJ
Críticos lembram que a gestão patrimonial da UFRJ, ao longo das últimas décadas, tem sido marcada por decisões pontuais e pela dificuldade em transformar ativos valiosos em fontes permanentes de receita. O resultado é a repetição de um ciclo em que se vende patrimônio público para custear necessidades imediatas, em um processo que simboliza “o Estado empobrecendo”.
Embora a audiência seja uma oportunidade para que a sociedade civil e a comunidade acadêmica debatam alternativas, o pano de fundo permanece o mesmo: a UFRJ, como tantas outras instituições estatais, sofre com uma herança administrativa ideológica, marcada pela dependência quase absoluta de recursos federais — cada vez mais escassos — e pela incapacidade de criar estratégias duradouras de financiamento.
Resumindo em uma frase, a crise que corrói a instituição não é apenas financeira, mas também de gestão.

Coluna escrita por Rui das Neves, administrador e incorporador
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