Na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), realizada nos dias 17 e 18 de junho de 2025, a decisão foi clara: a taxa básica de juros, a Selic, foi elevada em 0,25 ponto percentual, alcançando 15,00% ao ano. Embora essa elevação tenha sido uma medida preventiva contra o cenário inflacionário ainda adverso, o Copom também anunciou que, após esse ajuste, o ciclo de aumentos será interrompido para avaliar os impactos acumulados da política monetária até o momento.
Com o cenário doméstico e internacional desafiador, a decisão do Copom reflete a necessidade de um aperto monetário contínuo, mas com um olhar atento à realidade econômica mais ampla, como as tensões geopolíticas e o desempenho do mercado de trabalho.
Juros no radar: cenário externo e interno ainda apresentam incertezas
O Copom analisou detalhadamente o cenário global, que segue incerto devido a questões fiscais e comerciais nos Estados Unidos e a volatilidade nos mercados financeiros internacionais. Em meio a essa turbulência, o risco geopolítico, como o aumento das tensões no Oriente Médio, também pesa sobre as projeções para o crescimento econômico global.
Além disso, a inflação global, impulsionada por choques no mercado de petróleo, reforça a cautela, afetando diretamente os preços internos e as expectativas futuras. O Comitê destacou que, embora o Brasil tenha sido menos impactado pelas tarifas externas, ainda sente os reflexos de um ambiente global adverso.
Inflação ainda ameaça as metas e juros seguem pressionados
No cenário doméstico, o Copom observou sinais de desaceleração econômica, mas ainda com um certo dinamismo, especialmente em setores como a agropecuária. O mercado de trabalho, que segue com uma taxa de desemprego historicamente baixa, tem sido um motor importante para o consumo, embora com sinais de desaceleração nos rendimentos.
A inflação, por outro lado, continua sendo o principal desafio. A inflação cheia e as medidas subjacentes mantiveram-se acima da meta fixada pelo Conselho Monetário Nacional, com as expectativas para 2025 e 2026 ainda em valores elevados. De acordo com as últimas projeções da pesquisa Focus, as expectativas de inflação para os próximos dois anos permanecem em 5,2% e 4,5%, respectivamente.
O Comitê também alertou para o fato de que expectativas desancoradas de inflação são um fator que aumenta o custo da desinflação, exigindo uma restrição monetária por um período mais prolongado para garantir que a inflação se alinhe à meta.
Decisão de Política Monetária: interrupção no ciclo de alta de juros
A decisão de elevar a Selic foi influenciada pela necessidade de controlar as expectativas inflacionárias e garantir que a política monetária restritiva continue a fazer efeito. Contudo, o Copom reconheceu que o ciclo de alta de juros foi rápido e firme, e que os impactos dessa política ainda estão por vir, devido aos atrasos naturais no efeito das taxas de juros sobre a economia real.
Por essa razão, o Comitê decidiu interromper o ciclo de aumento de juros, permitindo tempo para avaliar os efeitos dos ajustes já realizados. A ideia é observar a convergência da inflação à meta e ajustar a política monetária de acordo com a evolução da economia.
Gabriel Galípolo, presidente do Banco Central, e os demais membros do Copom enfatizaram que a política monetária ainda precisará ser mantida em patamar restritivo por um período considerável. A interrupção no ciclo de alta de juros será cuidadosamente observada e o Copom não hesitará em prosseguir com o ciclo de ajustes, se necessário, para garantir a estabilidade econômica.
Desafios adicionais para o BC: juros e expectativas de inflação desancoradas
O Copom também discutiu o impacto das políticas fiscais sobre a política monetária, ressaltando que a fiscalização do orçamento e reformas estruturais são fundamentais para conter as pressões sobre a dívida pública e a taxa de juros neutra. A continuidade da fiscalização rígida e a implementação de reformas estruturais são vistas como cruciais para reduzir os riscos para a inflação e garantir a estabilidade econômica.
Além disso, o Comitê indicou que o cenário de alta volatilidade cambial e expectativas desancoradas exigem cautela e vigilância contínua, principalmente devido aos riscos de aumento da inflação e maior volatilidade nos mercados financeiros.
A decisão de manter a Selic em 15% reflete a visão do Copom de que a inflação é um desafio estrutural que exige um controle rigoroso de políticas monetárias, com ênfase na ancoragem das expectativas inflacionárias.
A estratégia do Banco Central será de manter uma restrição monetária contínua, monitorando de perto os efeitos das medidas e ajustando sua atuação conforme necessário. A estabilidade econômica e o pleno emprego são os objetivos de longo prazo, mas para alcançá-los, o Brasil enfrentará um período de ajuste rigoroso.
Análise de Fábio Kanczuk sobre os juros
Para Fábio Kanczuk, a ata do Copom foi levemente mais “dove”, mas não deve provocar movimentos significativos no mercado. O diretor destaca que, apesar de o Comitê ter reconhecido uma melhoria no cenário externo e uma desaceleração gradual da economia doméstica, a necessidade de um ajuste fiscal e o impacto potencial na redução do prêmio de risco foram abordados com cautela. A inflação, que apresentou surpresas baixistas no curto prazo, foi outro ponto positivo destacado.
“Acreditamos que, a menos de uma mudança muito brusca de cenário, o Copom não alterará o patamar de juros, que permanecerá em 15% por várias reuniões.” destaca Kanczuk.
 
			



 














