A semana nos mercados foi marcada por decisões de política monetária em diversos países, com destaque para a atuação do Banco Central do Brasil, que surpreendeu ao elevar a taxa Selic em 0,25 ponto percentual. A medida, que não era consenso no mercado, veio acompanhada de um discurso firme do presidente da autoridade monetária, Gabriel Galípolo, que sinalizou não ter “nenhum problema” em subir os juros novamente caso a inflação persista.
“O tom do Galípolo mudou completamente. Ele não só aumentou a Selic, como deixou claro que pode continuar subindo. Isso pegou o mercado de surpresa”, avaliou Marco Prado, apresentador do programa Pre-Market, da BM&C News.
A decisão veio na contramão da tendência global, já que bancos centrais como o Federal Reserve (EUA) e o Banco Central Europeu optaram por manter ou cortar os juros, diante de um cenário de inflação mais controlada em algumas economias desenvolvidas e de desaceleração da atividade.
Nos EUA, Fed mantém juros e Powell volta a citar riscos geopolíticos
Nos Estados Unidos, o Federal Reserve manteve a taxa de juros no intervalo de 4,25% a 4,50%, como esperado. O presidente da instituição, Jerome Powell, destacou que há sinais de melhora na economia, mas voltou a reforçar as preocupações com as tarifas ainda não resolvidas e, principalmente, com o agravamento do cenário geopolítico, especialmente com a crescente tensão entre Israel e Irã.
“Powell deixou claro que o ambiente externo está mais hostil. Ele vê riscos reais, inclusive para o mercado americano, se a crise entre Irã e Israel se intensificar”, comentou Marco Prado.
No tabuleiro também tem o presidente Donald Trump, que deu um prazo de duas semanas para decidir se os Estados Unidos atacarão Teerã. Apesar do tom beligerante, o mercado já parece habituado ao estilo imprevisível de Trump — seja ao lidar com guerras, disputas tarifárias ou até mesmo ao pressionar o próprio Federal Reserve, frequentemente por meio de críticas públicas para forçar cortes de juros.
Mercado no Brasil: decisão do Copom e fiscal continua travado no radar do investidor
No mercado doméstico, a reação à alta dos juros foi imediata. A Bolsa brasileira caiu com força nesta sexta-feira (após o feriado nacional de quinta-feira), refletindo o desconforto com o novo tom do Copom e com a ausência de avanços na agenda fiscal.
“A pauta segue travada em Brasília. O Congresso continua colocando obstáculos, e o governo segue sem articulação clara”, afirmou Prado.
Com o silêncio sobre cortes de gastos, o mercado segue cético quanto à trajetória da dívida pública, o que adiciona mais pressão sobre a política monetária, já que o risco fiscal pode alimentar a inflação de médio prazo.
Para a próxima semana, os investidores seguirão atentos aos desdobramentos geopolíticos, às falas de dirigentes do Fed e a qualquer sinal de movimento sobre o arcabouço fiscal brasileiro. No radar, também estão os próximos dados de inflação nos EUA e no Brasil, que podem reforçar (ou amenizar) a postura mais dura dos bancos centrais.