A reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), desta quarta-feira (18), mobiliza analistas e gestores com visões distintas sobre o rumo da taxa Selic. Enquanto parte do mercado acredita na manutenção dos juros em 14,75% ao ano, outra parcela já considera uma alta adicional de 0,25 ponto percentual, levando a Selic para 15% ao ano, o maior patamar em duas décadas.
Para Volnei Eyng, CEO da Multiplike, a expectativa é de manutenção, mesmo diante das tensões geopolíticas. “Apesar da alta do petróleo entre 10% e 15%, o impacto sobre a inflação ainda é limitado. O Boletim Focus trouxe revisão para baixo nas projeções de inflação, o que mostra que a política atual já está surtindo efeito”, explicou.
Na mesma linha, Carlos Braga Monteiro, CEO do Grupo Studio, reforça que uma nova alta seria desnecessária neste momento. “A taxa já é suficientemente restritiva. A manutenção da Selic preserva a credibilidade da política monetária sem gerar ruído adicional”, avaliou.
Sidney Lima, analista CNPI da Ouro Preto Investimentos, também prevê estabilidade, com destaque para a influência do último IPCA: “O dado veio abaixo do esperado, reforçando a percepção de que a taxa atual já exerce forte efeito contracionista. Embora haja alguma precificação nos juros futuros de uma alta residual de 25 pontos-base, esse movimento só se justificaria caso o Comitê adotasse uma retórica mais dura frente às incertezas fiscais.”.
Copom pode sinalizar nova alta na Selic com tom mais duro, dizem analistas
Por outro lado, algumas casas veem o Banco Central pronto para surpreender com uma alta residual. Segundo o economista Leonardo Costa, do ASA, o tom mais firme das últimas comunicações do Copom já sinaliza a possibilidade de elevação. “Antes prevíamos o fim do ciclo em 14,75%. Agora projetamos alta para 15%. O comitê voltou a indicar que novas altas estão sobre a mesa. Se o BC realmente subir os juros, ele estará espelhando o mercado (que voltou a precificar alta) e calibrando a comunicação conforme a volatilidade se acumula. A questão agora é se essa adaptação vai se traduzir, de fato, em nova alta da Selic ou se o comitê preferirá apenas reforçar o tom duro.”, afirmou.
A ABBC (Associação Brasileira de Bancos) também passou a projetar uma elevação de 0,25 ponto, com a Selic encerrando o ciclo de aperto monetário em 15% ao ano. “Apesar da leve melhora no cenário inflacionário, a inflação de serviços segue pressionada. Essa alta residual ajudaria a garantir a convergência da inflação à meta”, afirmou Everton Gonçalves, diretor de Economia da entidade.
Gonçalves ainda defendeu uma comunicação mais clara do Copom sobre os impactos das tensões globais: “Seria importante explicar melhor como esses choques afetam o câmbio, a inflação e as decisões sobre juros”.
Além da Selic: expectativas para o comunicado do Copom
Independentemente da decisão sobre a Selic, a expectativa do mercado é que o Copom adote um comunicado mais duro, reforçando a dependência de dados econômicos e o compromisso com a meta de inflação, sem antecipar movimentos futuros para a taxa básica de juros.
Os especialistas que defendem a manutenção da Selic em 14,75% destacam a moderação dos preços e os efeitos já visíveis sobre o crédito. Já os que esperam uma nova alta argumentam que os riscos externos e a inflação de serviços persistente ainda exigem um ajuste adicional.
A definição sobre a Selic e os próximos passos da política monetária será conhecida nesta quarta-feira, com a divulgação da decisão e, principalmente, da estratégia do Copom para os próximos meses.