A decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de dobrar as tarifas de importação sobre aço, alumínio e materiais derivados, elevando a alíquota de 25% para 50%, inaugura um novo momento de tensão no comércio internacional e acende um sinal de alerta especialmente para o Brasil. A medida, que entra em vigor imediatamente, impacta diretamente um dos principais fluxos comerciais entre os dois países, já que quase 70% das exportações brasileiras desses metais têm como destino o mercado americano.
Além disso, o Brasil ocupa a posição de segundo maior fornecedor de aço aos EUA, o que amplia o potencial de prejuízo para a indústria nacional. Sob o argumento de garantir a segurança nacional, Trump reforça sua postura protecionista às vésperas da corrida eleitoral, reacendendo debates sobre o papel dos Estados Unidos no comércio global e obrigando países exportadores a recalcular rotas e estratégias diante da nova ofensiva americana.
Especialistas avaliam impactos das tarifas de importação sobre o aço e as reações do Brasil
Para João Kepler, CEO da Equity Group, o aumento das tarifas sobre o aço reforça uma fragilidade histórica da economia brasileira: a dependência excessiva da exportação de commodities. Ele defende que o momento exige uma resposta estratégica centrada na inovação. “A elevação desses custos pode gerar pressão sobre a indústria de base e afetar o equilíbrio das cadeias produtivas, influenciando diretamente a competitividade nacional”, afirma. Na visão de Kepler, o governo deveria estimular a pesquisa e o desenvolvimento (P&D) para agregar valor aos produtos e reduzir a vulnerabilidade diante de medidas externas como essa.
André Matos, CEO da MA7 Negócios, avalia que o cenário se agrava num contexto de crédito restrito e custos operacionais elevados. “As empresas brasileiras enfrentam um novo desafio de gestão, principalmente em um momento em que o crédito está mais caro e a pressão nos custos já é alta. O setor industrial pode sofrer com margens mais estreitas e aumento do risco financeiro”, alerta. Para ele, o governo deve agir com celeridade, oferecendo garantias de crédito e linhas especiais para exportadores, além de intensificar acordos comerciais com mercados alternativos, como a China.
Já Theo Braga, CEO da SME The New Economy, destaca os riscos macroeconômicos embutidos na decisão americana de aumentar a tarifa sobre o aço. “Esse contexto pode pressionar a balança comercial e afetar as receitas das empresas do setor de siderurgia, com reflexos em toda a economia”, pontua. Segundo ele, é fundamental que as empresas reavaliem seus contratos, revisem projeções de caixa e considerem estratégias de proteção cambial para mitigar os efeitos adversos desse novo ambiente internacional.