O dólar, uma das principais variáveis econômicas, continua em destaque nas discussões de mercado. Apesar de sua influência global, o Brasil enfrenta desafios específicos para conter a valorização da moeda americana. Especialistas apontam que, para o dólar voltar a níveis abaixo de R$6, é necessário um esforço coordenado entre política fiscal, estabilidade econômica e reformas estruturais.
Risco fiscal e a desvalorização do real: fatores internos em destaque
“Para que o dólar volte a cair, o Brasil precisa adotar medidas que aumentem a confiança dos investidores e tragam mais estabilidade econômica”, afirma Sidney Lima, analista CNPI da Ouro Preto Investimentos. Ele destaca a importância de controlar gastos públicos e avançar em reformas tributárias. “A redução de incertezas políticas também é crucial para atrair investimentos”, complementa.
Segundo Volnei Eyng, CEO da gestora Multiplike, o desvio cambial atual reflete um cenário interno fragilizado. “O real apresenta uma desvalorização superior à de outras moedas devido à situação fiscal e ao aumento do risco-Brasil”, diz. Ele reforça que ajustes fiscais concretos podem permitir uma recuperação gradual do real, mas alerta: “Promessas sem execução prática só ampliam o déficit e a desconfiança.”
Política econômica dos EUA: impacto global e reflexos no câmbio brasileiro
João Kepler, CEO da Equity Fund Group, ressalta que decisões econômicas nos Estados Unidos têm um peso significativo no câmbio. “Uma economia brasileira mais sólida pode mitigar esses impactos externos e valorizar o real”, observa.
As políticas adotadas pelo governo americano, incluindo controle de fronteiras e ajustes fiscais, também entram na equação. “Precisamos entender como essas medidas serão implementadas e seu impacto no mercado global. Isso, somado à instabilidade fiscal brasileira, forma um cenário complexo”, avalia Eyng.
Juros e intervenções do Banco Central: medidas emergenciais ou estruturais?
André Matos, CEO da MA7 Negócios, aponta que ajustes nos juros são uma ferramenta crucial. “Os juros têm o poder de ajustar o mercado, mas cada decisão precisa ser analisada com cautela para evitar impactos negativos”, afirma. Ele menciona que medidas como aumento do IOF e compulsórios podem ser alternativas emergenciais, mas têm limitações práticas.
Carlos Braga Monteiro, CEO do Grupo Studio, ressalta a importância de intervenções pontuais do Banco Central para controlar a volatilidade cambial. “A venda de dólares no mercado é uma estratégia válida, mas não substitui reformas estruturais que inspirem confiança nos investidores”, destaca.
Caminhos para a valorização sustentável do real
Especialistas concordam que o fortalecimento do real depende de ações coordenadas e responsáveis. “Com ajustes fiscais, simplificação tributária e redução da burocracia, o Brasil pode atrair mais investimentos diretos”, afirma Monteiro. Ele acrescenta que a estabilidade política é fundamental para diminuir o risco-Brasil e fortalecer a moeda nacional.
Kepler sintetiza o desafio: “Embora fatores externos influenciem, a construção de uma economia mais sólida e previsível é o que realmente pode valorizar o real e trazer o dólar a níveis mais baixos.”
