O pacote fiscal apresentado pelo governo, apesar de ser um avanço na tentativa de equilibrar as contas públicas, ainda não é suficiente para alcançar a estabilidade necessária nas contas. Segundo o economista Felipe Salto, economista-chefe da Warren Investimentos, o ajuste anual necessário para atender às metas de superávit primário e estabilizar a dívida em relação ao PIB é de R$ 70 bilhões.
“As nossas contas indicam que, para cumprir o piso da meta fiscal de 2025, seria necessário um ajuste de R$ 46,9 bilhões. Desse total, estimamos que o contingenciamento de despesas discricionárias poderia contribuir com cerca de R$ 16 bilhões”, explicou Salto.
No entanto, o economista destacou que o montante restante — cerca de R$ 31 bilhões — dependeria das medidas contidas nos dois projetos de lei e na PEC apresentadas pelo governo, que, conforme suas estimativas, poderiam gerar R$ 23 bilhões. Isso ainda deixaria um déficit de R$ 8 bilhões.
Ajuste fiscal e desafios da dívida pública
Mesmo que o déficit de R$ 8 bilhões fosse solucionado, Salto alerta que o cenário fiscal permanece complexo. “O déficit primário projetado para o próximo ano seria de R$ 75,1 bilhões. Isso inclui a banda inferior da meta, de R$ 31 bilhões negativos, somados aos precatórios fora das regras fiscais, que chegam a R$ 44,1 bilhões”, pontuou.
Para estabilizar a dívida pública em um cenário com taxas reais de juros próximas ao nível neutro, seria necessário um superávit primário de 1,5% do PIB, equivalente a R$ 70 bilhões por ano. “É um desafio muito maior do que o pacote atual, que promete R$ 71,9 bilhões em dois anos”, reforçou o economista.
Transparência e confiança no mercado
Outro ponto destacado por Felipe Salto é a necessidade de maior transparência por parte do governo. Segundo ele, uma estratégia que poderia animar o mercado seria a publicação de notas técnicas e memórias de cálculo detalhadas para cada uma das medidas contidas na PEC e nos projetos de lei.
“A irritação do governo com as reações do mercado é compreensível, mas as análises mostram que o esforço fiscal precisa ser muito maior. Divulgar informações detalhadas seria um passo importante para reconquistar a confiança dos investidores”, afirmou Salto.
















