O mercado financeiro encerrou a última semana com movimentos intensos, após o anúncio de um aguardado pacote de gastos pelo governo. A reação, no entanto, foi marcada por preocupações e ajustes defensivos por parte dos investidores. Marco Prado, trader e apresentador do Pre-Market, da BM&C News, analisou os principais impactos e desafios que seguem para as próximas semanas.
Segundo Prado, “o anúncio do pacote foi indigesto para o mercado doméstico”. Ele destacou que, além da comunicação considerada ruim e demorada, a isenção do Imposto de Renda (IR) para quem ganha até R$ 5 mil trouxe preocupações adicionais. “A isenção foi o tiro no pé da equipe econômica, trazendo um sinal de pioras no curto prazo”, afirmou.
O impacto foi sentido diretamente nos mercados. “O dólar literalmente explodiu para R$ 6,10, seguindo a curva de juros que já precificam uma Selic de 14%”, apontou Prado. Enquanto isso, a Ibovespa recuou para a região de 124.000 pontos, mesmo com a alta das ações da Vale e da Petrobras no último pregão do mês. O movimento afastou, por ora, a possibilidade de um rally de fim de ano, com investidores adotando cautela diante das incertezas.
De acordo com Prado, a reação negativa também se justifica pelas dificuldades esperadas no Congresso para a aprovação de alguns tópicos do pacote. “Como muitos pontos dependerão do Congresso, o mercado já avalia as dificuldades futuras em aprovação e preferiu agir na defensiva”, explicou. Ele reconheceu, no entanto, que o mercado pode ter exagerado em sua reação, mas ressaltou que “a crise de confiança é a pior de todas as crises”.
No cenário internacional, a liquidez foi afetada pelo feriado de Ação de Graças nos Estados Unidos, enquanto a agenda de indicadores apresentou pouco impacto. Na Europa, dados de inflação trouxeram alívio, mas foram acompanhados de preocupações expressas pela presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, sobre possíveis taxações americanas. “Isso poderia trazer mais inflação para o bloco”, avaliou Prado.
Com um cenário ainda incerto, investidores aguardam os próximos passos e as discussões em torno do pacote. A expectativa de um rally de dezembro permanece, mas, como ressaltou Prado, “sem perspectiva, os ativos de risco irão penar para sequer alcançar os mesmos preços que estavam no início da semana”.
Enquanto isso, a atenção se volta para os desdobramentos no Brasil e as movimentações nos mercados globais, que podem influenciar as estratégias de final de ano.