O ministro da Economia, Paulo Guedes, argumentou que o Brasil está barato para investidores estrangeiros e afirmou que os “gringos” que entrarem no Brasil neste momento, com o dólar cotado perto de R$ 5,50, poderão sair com a moeda a R$ 3 em “dois ou três anos”.

Em evento do banco BTG, Guedes disse que participa de menos road shows com investidores do que ministros anteriores, mas disse que o País “incontornavelmente” terá de ir em direção aos mercados. “Primeiro tem de trabalhar para depois vender o Brasil”, completou, se referindo às reformas pretendidas por sua administração.
O ministro voltou a dizer que a conta da pandemia do coronavírus não pode ficar para as próximas gerações. “Não vamos jogar dívida da pandemia para 100% do PIB”, completou.
Leia também:
- Avanço de reformas e auxílio emergencial são destaques nesta terça, confira
- BNDES seguirá vendendo participações acionárias, diz Montezano
No início de sua fala, Guedes disse que queria “parabenizar todos os economistas que já integraram o governo”. “Antes de entrar no governo, eu achava tudo muito fácil, não é bem assim”, brincou o ministro, que está há dois anos e cinco meses no cargo e já travou negociações duras com o Congresso Nacional.
Arrecadação e projeção de déficit
Guedes disse ainda que, com os sucessivos resultados positivos na arrecadação de tributos, o governo está revendo para baixo a projeção de déficit público neste ano. “Estava em R$ 280 bilhões a previsão de déficit há duas semanas. A arrecadação veio tão formidável que já estamos revendo para R$ 180 bilhões”, comentou.
Ele afirmou ainda que são necessários investimentos em infraestrutura para que o Brasil se integre à América Latina, mas voltou a dizer que o País não pode ficar preso ao Mercosul.
“O Brasil tem que ser a âncora dos grandes investimentos e transbordar a produção para a América Latina. Não vamos ficar presos à região, foi um erro, o Mercosul nos aprisionou”, completou o ministro.
Acho que podemos criar 2 milhões de empregos rapidamente com BIP
O ministro da Economia, Paulo Guedes, também disse que o governo vê potencial de criação de 2 milhões de empregos “rapidamente” com o Bônus de Inclusão Produtiva (BIP), iniciativa que está sendo gestada para reduzir o desemprego.
Como mostrou o Broadcast, seria dada uma ajuda a jovens, em um valor que ficaria entre R$ 200 e R$ 300 por trabalhador. A empresa arcaria com uma bolsa em valor equivalente e qualificaria o jovem por meio de cursos ou treinamentos internos, em um esquema de “formação no local de trabalho” (do inglês “on job training”).
As duas bolsas precisarão juntas assegurar o valor do salário mínimo/hora, hoje em R$ 5, assim como já ocorre no caso de trabalhadores intermitentes. O jovem incluído no BIP terá uma jornada máxima de quatro horas diárias.
No caso da adoção da jornada máxima, por exemplo, o jovem receberia ao menos R$ 20 por dia. Desse valor, o governo pagaria R$ 10, enquanto os outros R$ 10 viriam da empresa. A companhia poderá pagar valores maiores, se julgar conveniente. Não haverá incidência de encargos trabalhistas, uma vez que o BIP se assemelha a um estágio.
Segundo Guedes, o governo já vem conversando com empresas e muitas demonstraram interesse na iniciativa e que o programa pode ser a entrada para a Carteira Verde e Amarela, medida almejada pela equipe econômica para reformular regras trabalhistas e retirar encargos sobre a folha de pagamento.
O ministro também ressaltou que amanhã serão anunciados os resultados de abril do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), que reflete as oscilações no mercado formal de trabalho. “Se a gente criar 200 mil novas vagas, será um milhão no primeiro quadrimestre”, destacou.
Guedes disse ainda que o governo não vai “desindustrializar” o Brasil e que tem buscado a abertura econômica para impulsionar o crescimento e a produtividade. Ele ressaltou que tem trabalhado pela redução de tarifas externas do Mercosul, apesar das resistências da Argentina, outro membro do bloco. O ministro frisou, porém, que o Brasil não pode deixar de avançar nessa agenda por causa do país vizinho.
Caixa
O ministro da Economia, Paulo Guedes, disse, em tom de brincadeira, que o presidente da Caixa Econômica Federal, Pedro Guimarães, está tão popular que poderá ser candidato a vice-presidente. Guimarães tem acompanhado o presidente Jair Bolsonaro em eventos recorrentemente.
Em evento do BTG Pactual, Guedes ressaltou que a Caixa, além de operacionalizar o pagamento do auxílio emergencial, está “democratizando” o acesso ao crédito e entrando em áreas em que antes não atuava.
“Pedro Guimarães daqui a pouco vai ser candidato a vice-presidente da República, tá popular”, completou Guedes.
Vamos fazer reforma tributária muito simples, a que dá para fazer
O ministro da Economia, Paulo Guedes, disse que a reforma tributária será “muito simples” e que é a que “dá para fazer”. Em evento do BTG Pactual, o ministro voltou a falar em reduzir o IPI sobre produtos de linha branca – medida adotada em governos petistas para estimular o consumo.
O ministro disse ainda que o governo e o Congresso lançarão o “passaporte tributário”, uma medida nos moldes de um Refis para renegociar dívidas tributárias com descontos significativos. “Dá desconto de 70%, o cara paga”, exemplificou Guedes. O tema foi tratado ontem em reunião na residência oficial do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG).”(Com o passaporte) Os pequenininhos você alivia, deixa seguir a vida”, disse Guedes.
O ministro ainda adotou uma espécie de vacina contra eventuais críticas. A própria Receita Federal costuma ser contra a adoção de programas como o Refis porque incentivam o devedor contumaz, que fica no aguardo de oportunidades como essa para quitar débitos com descontos.
“Vai ser simples, vai ser difícil ficar contra”, afirmou o ministro, ressaltando que a medida busca dar alívio às empresas em dificuldade.
Guedes disse ainda que o valor das desonerações e do contencioso tributário no Brasil, que juntos passam dos trilhões de reais, é uma evidência de que o “imposto está fora do lugar”. “É tão alto que quem tem poder político consegue desoneração. O cara prefere pagar um escritório de advocacia (a pagar imposto)”, disse.
O ministro voltou a falar ainda na criação de um fundo com recursos de privatizações para ser destinado aos mais pobres. “Quem sabe com esse argumento conseguimos acelerar as privatizações e melhorar o problema da desigualdade social”, completou.