O Brasil ocupa atualmente a 2ª colocação no Ranking Mundial de Juros Reais, com uma taxa de 9,76% ao ano, segundo levantamento da MoneYou em parceria com a Lev Intelligence, divulgado em julho de 2025. O dado considera a taxa de juros a mercado (DI) para 12 meses e a inflação projetada para o mesmo período. O país fica atrás apenas da Turquia (10,08%) e à frente de Argentina e África do Sul.
Confira o top 5 do levantamento do juros reais
Posição | País | Juro Real (%) |
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1º | Turquia | 10,08% |
2º | Brasil | 9,76% |
3º | Argentina | 6,70% |
4º | África do Sul | 5,29% |
5º | Rússia | 4,86% |
Em meio a esse cenário, o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini, explica que o Brasil só entrou em território de política monetária restritiva recentemente. “Até maio, o juro real estava abaixo do juro neutro. Só agora, a partir de junho e julho, é que passamos a operar com uma taxa real acima de 6% ao ano. Podemos chegar a 10% no início de 2026”, afirma.
Alta dos juros reais reflete inflação desancorada ou risco fiscal?
Segundo Agostini, ambos os fatores estão relacionados. A expansão fiscal contínua contribui para a desancoragem das expectativas inflacionárias. “A política fiscal expansionista no cenário atual alimenta a inflação. Nosso maior problema hoje é o desequilíbrio fiscal”, explica.
Ele ressalta que a elevação da taxa de juros real tem efeitos colaterais. “A taxa de juro real deveria reduzir o impulso fiscal. O problema é que estamos em um ciclo vicioso de risco elevado, dívida crescente e expansão fiscal contínua.”
O juro real elevado pode afetar a nota de crédito do Brasil?
De acordo com o economista da Austin Rating, “o juro real elevado por si só não impacta diretamente a avaliação de rating soberano. O que pesa mesmo é a evolução do cenário fiscal, especialmente o comportamento da dívida bruta em relação ao PIB”, explica Agostini.
O efeito indireto, no entanto, existe. Um juro real persistentemente elevado tende a desacelerar o crescimento econômico, o que por sua vez afeta as receitas do governo e pressiona o endividamento público. “Esse ciclo é monitorado mas a chave da equação é o fiscal e como isso impacta a dinâmica da dívida bruta em relação ao PIB”, conclui.
Há espaço para a taxa real convergir ao juro neutro?
Sim, mas apenas no longo prazo. Segundo Agostini, a convergência do juro real ao juro neutro deve começar no fim de 2026 e se consolidar em 2027. “Não esperamos corte de juros no Brasil antes dos Estados Unidos. Lá fora, o ciclo deve começar em setembro. Aqui, talvez só em janeiro, se o cenário permitir”, afirma.
O risco de populismo fiscal em ano pré-eleitoral preocupa?
Para o economista, o impacto do chamado “tarifácio” de Trump pode atrasar essa trajetória. “Precisamos acompanhar o comportamento da inflação, inclusive com efeitos de segunda ordem. O governo brasileiro vai tentar mostrar força fiscal em 2025, mas ainda mira o piso da meta de resultado primário quando deveria mirar o centro para ter margem de segurança.”
Agostini observa que o Banco Central já vem adotando uma política monetária mais agressiva agora justamente para evitar pressões políticas em 2026, ano eleitoral. “O objetivo é não ter que mexer na Selic no ano que vem. Mas o risco fiscal populista pode empurrar o início dos cortes para mais adiante.”
Ele destaca ainda que o governo tem adotado estratégias como o aumento do IOF para compensar o descontingenciamento recente, e que há dúvidas sobre o cumprimento da meta fiscal no próximo ano. “O governo deve insistir no discurso de compromisso com a meta, pelo menos até as eleições”, afirma.
Como o tarifaço afeta o cenário macroeconômico?
O impacto da taxação adicional dos EUA sobre produtos brasileiros, o chamado “tarifaço”, foi amenizado com a retirada de itens-chave, como café e carne. “Os americanos estão cansados de preço alto. Vai ter, naturalmente, uma pressão interna lá nos Estados Unidos, para que haja a redução dessa tarifa desses dois itens, carne e café“, explica Agostini.
O papel dos juros reais
Embora não seja protagonista, o juro real exerce um papel relevante no atual contexto. “Ele funciona como coadjuvante que acelera a convergência da inflação para a meta. Mas seu efeito pleno só virá com ajuste fiscal e maior previsibilidade institucional”, conclui Agostini.