O Brasil segue enfrentando um ambiente desafiador para os investidores, com a taxa de juros elevada impactando diretamente as decisões de alocação de recursos. Em um cenário marcado pela instabilidade interna e externa, o investidor tem se voltado cada vez mais para ativos de renda fixa, buscando segurança em meio à volatilidade do mercado. Cristiano Castro, diretor de Desenvolvimento de Negócios da BlackRock, destacou, em entrevista à BM&C News durante o Avenue Connection, que a alta dos juros e o aumento da incerteza global têm gerado um movimento de cautela, o que resultou em um impacto significativo no mercado de renda variável, que tem enfrentado uma compressão de preços nos últimos meses.
“Estamos vivendo um momento em que as taxas de juros no Brasil estão em níveis muito elevados, o que faz com que muitos investidores se voltem para a renda fixa, que oferece mais estabilidade. Isso acaba comprimindo os preços no mercado de renda variável, um fenômeno que vimos com intensidade no final do ano passado“, afirma Cristiano Castro.
O movimento em direção à renda fixa é visto como uma estratégia de preservação de capital diante das incertezas macroeconômicas, já que os ativos de renda variável, como ações, têm mostrado grande volatilidade, impactados não só pelas condições internas, mas também pelas instabilidades externas.
A avaliação de Castro sobre o comportamento do mercado nos próximos meses aponta para um cenário de contínua cautela. Para ele, o investidor continuará adotando uma postura conservadora enquanto as taxas de juros permanecerem elevadas e enquanto persistirem as incertezas tanto locais quanto globais. “Enquanto os juros continuarem altos e o cenário global se mantiver instável, é provável que o investidor se mantenha mais cauteloso, tomando menos riscos. Essa deve ser a tônica do mercado por enquanto“, explicou.
Essa postura conservadora é reforçada pela dificuldade de se prever o futuro próximo, já que tanto o Brasil quanto o cenário internacional seguem em um ciclo de incertezas, como o impacto da inflação, a política fiscal e a guerra na Ucrânia, além das tensões comerciais globais. “O investidor vai esperar as incertezas se estabilizarem para pensar em mudanças de estratégia. Não é um momento propício para movimentos de maior risco“, afirmou o diretor da BlackRock.
Mercado de olho no câmbio
No que diz respeito ao dólar, Cristiano Castro apontou que a instabilidade global torna difícil uma avaliação precisa da tendência do câmbio. Embora o dólar tenha mostrado sinais de enfraquecimento nos últimos dias devido ao impacto das tarifas, a esse cenário não deve se prolongar.
“Enquanto o cenário global não se estabilizar, é difícil prever a trajetória da moeda. O dólar pode perder um pouco de força, mas não há muito espaço para uma queda significativa“, disse. De acordo com Castro, o mercado de câmbio deve permanecer relativamente estável, com pouca margem para movimentos acentuados na taxa de câmbio entre o real e o dólar.
A situação cambial reflete a instabilidade externa como a desaceleração econômica global e as políticas monetárias divergentes adotadas pelos principais bancos centrais, como o Federal Reserve dos EUA. “Enquanto o cenário externo for instável, o mercado de câmbio continuará muito sensível a esses fatores, o que dificultará uma tendência de queda sustentada para o dólar“, completou.
O impacto no mercado de renda variável e os desafios para as empresas
O impacto dessa cautela no mercado de renda variável é visível. A taxa de juros alta e a busca por segurança fazem com que muitos investidores migrem para ativos mais estáveis, como títulos públicos e debêntures, enquanto as ações e outros ativos de risco enfrentaram compressões de preços. A falta de confiança no curto prazo fez com que muitos investidores segurassem os investimentos em ações, aguardando uma maior clareza no cenário econômico.
De acordo com Cristiano Castro, o caminho para uma mudança nas estratégias de investimento no Brasil depende da resolução das incertezas locais e globais. “O tom do mercado será de cautela enquanto a situação interna e externa não se estabilizarem. A tendência é de esperar por mais clareza nas políticas fiscais e monetárias, tanto no Brasil quanto no cenário internacional, para então tomar decisões mais ousadas“, concluiu.
Os investidores, por sua vez, devem continuar observando o cenário com prudência, priorizando a segurança até que se perceba uma melhoria nas condições econômicas e uma diminuição das incertezas. A BlackRock, assim como outras grandes gestoras de investimentos, aconselha que, por enquanto, as estratégias de maior risco sejam postergadas, focando-se na preservação de capital até que a estabilidade se reestabeleça.