O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou a imposição de novas tarifas de importação que variam entre 25% e 40% para produtos de 14 países, com vigência a partir de 1.º de agosto. A medida, divulgada por meio de sua rede Truth Social, foi justificada por Trump como uma resposta a relações comerciais “não recíprocas” e déficits persistentes. As novas taxas incluem 25% para Japão, Coreia do Sul, Malásia, Casaquistão e Tunísia; 30% para África do Sul; 35% para Sérvia e Bangladesh; 36% para Tailândia e Camboja; 32% para Indonésia e Bósnia; e 40% para Mianmar e Laos. Juntos, esses países representam cerca de 15% das importações americanas, com destaque para Japão e Coreia do Sul, grandes fornecedores de automóveis.
O anúncio veio um dia após Trump ameaçar aplicar tarifas de 10% a países que se aproximarem do Brics, grupo que inclui o Brasil, e mexeu com os mercados globais. O dólar subiu diante de incertezas comerciais, enquanto as bolsas dos Estados Unidos e do Brasil fecharam em queda. Segundo analistas, o governo americano enfrenta dificuldades em fechar novos acordos comerciais, até agora, apenas dois pactos preliminares foram firmados, com Reino Unido e Vietnã. Apesar do tom agressivo, a Casa Branca indicou que as tarifas anunciadas são um “ponto de partida” e que os EUA seguirão dialogando com os países afetados. A expectativa é que novas negociações e anúncios sejam feitos ainda nesta semana.
Incerteza nas tarifas e riscos para o Brasil
Para o economista e doutor em relações internacionais Igor Lucena, a decisão de Trump de adiar a imposição das tarifas para agosto revela uma indefinição estratégica nas negociações comerciais dos Estados Unidos. A expectativa era de que as novas taxas fossem anunciadas já no dia 9, mas o adiamento, ainda que breve, indica que acordos importantes seguem em negociação, especialmente com a União Europeia, considerada uma peça central no tabuleiro global.
No caso do Brasil, Lucena avalia que a tentativa de incluir todos os produtos nas tarifas de 10% encontra barreiras práticas e políticas. “Grande parte do que exportamos já está nos 10%, e isso, por ora, nos protege. Mas o presidente Trump está mirando setores que ele considera sensíveis à economia americana“, afirma.
O maior ponto de tensão, segundo Lucena, é simbólico: a posição do BRICS em defesa da desdolarização do comércio internacional. Para Trump, essa agenda representa uma afronta direta à hegemonia econômica dos Estados Unidos, e a resposta, ainda que em tom de ameaça, veio durante a própria cúpula do bloco.
O especialista ressalta que o Brasil pode sair prejudicado ao manter discursos internos desalinhados: “Enquanto o Itamaraty tenta manter negociações técnicas com Washington, a retórica do governo federal e a aproximação política com o BRICS podem ser interpretadas como provocação. Isso complica o espaço diplomático que temos até agosto“, conclui.