A B3, bolsa de valores brasileira, encerrou o processo de audiência restrita sobre o regulamento do Novo Mercado, segmento que reúne companhias com os mais altos padrões de governança corporativa do país. O resultado da votação foi claro: a maioria das empresas listadas rejeitou as propostas de mudança, o que impediu qualquer atualização nas regras vigentes desde 2017.
Das 190 companhias listadas no Novo Mercado, 152 participaram da votação. Desse total, 74 se posicionaram contra todas as propostas, 8 foram favoráveis a todas, e 70 aceitaram apenas parte das sugestões. De acordo com as normas do próprio segmento, se um terço das empresas rejeitar as propostas, elas não podem ser implementadas, o que se confirmou neste caso.
Atualização do Novo Mercado fracassa após resistência das empresas
A proposta de modernização surgiu após mais de 60 reuniões entre a B3 e cerca de 120 companhias, além da recepção de 76 contribuições por escrito vindas de empresas, investidores, associações e especialistas. A ideia era aprimorar práticas já consolidadas em mercados internacionais e promover maior transparência, sem aumento de custos operacionais para as empresas.
Mesmo com um processo considerado democrático e técnico, a tentativa de atualizar o Novo Mercado foi barrada, reforçando o clima de cautela que domina o ambiente corporativo em meio à baixa liquidez, instabilidade política e crescente aversão ao risco por parte dos investidores.
Para Amec, recado das empresas sobre o Novo Mercado é “duro e preocupante”
Fabio Coelho, presidente da AMEC, classificou o resultado como um retrocesso na governança corporativa brasileira. “É um dia triste para o mercado de capitais. Os investidores não esperavam uma rejeição tão expressiva aos aperfeiçoamentos propostos”, afirmou.
Segundo Coelho, muitos dos pontos apresentados pela B3 já são adotados em outros mercados desenvolvidos e não representavam ônus adicional para as companhias. “Imaginávamos que a maioria dos itens seria aprovada com facilidade, mas não foi o caso. Isso mostra uma resistência estrutural a avanços”, avaliou.
Coelho destacou que o processo foi legítimo e democrático, mas acredita que o Novo Mercado precisa evoluir constantemente para manter sua credibilidade e atratividade. “A governança é um ativo intangível que influencia diretamente o apetite dos investidores institucionais.”
Novo Mercado seguirá com regras atuais, mas debate será retomado
Em nota oficial, a B3 informou que, apesar da rejeição, pretende abrir uma nova rodada de discussões sobre o Novo Mercado, com foco na revisão dos processos de deliberação e aprimoramento do regulamento.
A instituição também ressaltou que o Novo Mercado continuará como principal referência em autorregulação e boas práticas de governança no país. Desde sua criação, em 2000, o regulamento já passou por cinco atualizações, todas com o objetivo de aumentar a transparência, proteger os investidores e fortalecer o mercado de capitais nacional.
O resultado da votação envia uma mensagem contundente: parte relevante do setor corporativo brasileiro ainda demonstra resistência a avanços em governança, mesmo diante de um ambiente de baixa confiança institucional e crescente exigência por transparência.