Os dados divulgados nesta sexta-feira (27) sobre a inflação nos Estados Unidos reforçam o cenário de incerteza que desafia a política monetária americana. Embora sem grandes surpresas, o núcleo do PCE, indicador preferido do Federal Reserve, veio acima do esperado, sinalizando que o combate à inflação ainda não terminou. Ao mesmo tempo, a queda nos gastos pessoais indica uma economia que começa a perder força, em meio a um ambiente influenciado tanto por fundamentos econômicos quanto por pressões políticas.
Em entrevista ao portal BM&C News, o economista Fabio Fares analisou os dados com atenção especial à mensagem enviada pelo núcleo da inflação. “É exatamente esse número que o Powell e o pessoal do Fed olham com mais carinho. O núcleo veio um pouquinho mais quente do que o esperado e isso reforça que a inflação ainda não está completamente sob controle”, afirmou Fares.
Ao mesmo tempo, outro dado chamou atenção: os gastos pessoais caíram 0,1% em maio, frustrando a expectativa de leve alta do mercado. Para Fares, esse comportamento reforça a tese de desaceleração gradual da atividade. “Isso vem na esteira de outros indicadores que sugerem uma economia americana perdendo um pouco de tração”, completou.
Cautela com inflação e contexto político atrasam corte de juros
Apesar da inflação mais resistente, Fares acredita que o Federal Reserve já estaria sinalizando cortes na taxa de juros se não fosse o ambiente político instável. “O Fed muito provavelmente já estaria cortando juros se não fosse essa incerteza toda em torno das políticas tarifárias. Powell foi claro: eles querem ver os dados de junho e julho antes de decidir, o que praticamente crava setembro como a próxima janela possível”, explicou o economista.
A avaliação de Fares reforça a percepção de que o banco central americano está adotando uma postura cautelosa, diante de uma combinação de fundamentos econômicos ainda frágeis e interferências políticas relevantes, como as pressões do governo Trump por uma flexibilização monetária mais rápida.
Impacto da inflação no mercado e nos investidores
Para os mercados financeiros, a leitura é mista: embora a inflação ainda pressione, o enfraquecimento dos dados de consumo acende alerta sobre a sustentabilidade do crescimento. “Estamos diante de um ambiente onde a política econômica está sendo moldada tanto pelos fundamentos quanto pelo contexto político. Isso exige atenção redobrada dos investidores”, alerta Fares.
A próxima reunião do Federal Reserve, marcada para setembro, ganha agora ainda mais importância. Até lá, os dados de inflação, atividade e mercado de trabalho continuarão sendo decisivos para qualquer mudança na trajetória dos juros americanos.
Economista aponta inflação mais “comportada”
Segundo Andressa Durão, economista do ASA, o dado do núcleo do PCE de maio foi apenas levemente acima do esperado, e ainda não há sinais claros de impacto das tarifas anunciadas pelo governo americano. Ela ressalta que, embora o core PCE tenha voltado a acelerar na comparação de 12 meses, a média móvel trimestral anualizada caiu para 1,7%, refletindo uma desaceleração tanto da inflação de bens quanto de serviços na ponta. Para Durão, o número não altera a atual postura do Federal Reserve, que segue com os juros inalterados diante das incertezas e à espera dos próximos dados de inflação para tomar decisões mais firmes sobre a condução da política monetária.