A avaliação do governo Lula no campo econômico tem enfrentado desgaste crescente, inclusive entre os eleitores. Em entrevista à BM&C News, o analista político e econômico Miguel Daoud destacou que recentes pesquisas apontam um cenário preocupante: a percepção da população é de que o governo pode terminar em pior situação econômica do que a que encontrou no início do mandato.
“Maquiagem não corrige feiura estrutural. Pode até disfarçar no curto prazo, mas não muda os fundamentos”, afirmou Daoud, ao comentar a tentativa do governo de melhorar a imagem por meio de discursos otimistas e medidas pontuais sem reformas estruturais.
Popularidade do governo em baixa e falta de agenda clara no Congresso
Segundo Daoud, o ambiente político segue extremamente polarizado, o que amplia os riscos para o Executivo. Mesmo com a paridade em intenções de voto entre Lula e Bolsonaro em pesquisas recentes, ambos com 35%, o sentimento econômico da população não segue a mesma lógica.
“Uma coisa é a intenção de voto, outra é a percepção sobre a economia. O governo está no poder e precisa entregar. Hoje, o sentimento é de frustração”, destacou.
Ele criticou ainda a atuação do Congresso, apontando que muitos parlamentares estão mais focados em disputas por espaço político e liberação de emendas do que na formulação de um projeto de país.
“Eles não estão discutindo o Brasil. Estão discutindo cargos, partidos, interesses pessoais. E a população começa a perceber isso”, afirmou.
Risco de colapso político no governo e falta de entregas estruturais
Na visão de Daoud, há uma janela de oportunidade para que a oposição avance com uma agenda mais propositiva e pressione o governo, mas isso não tem acontecido com consistência. “A oposição poderia passar como um tsunami, se quisesse. Mas também está presa em interesses próprios“, criticou.
Para ele, a ausência de uma reforma administrativa, a demora na revisão do IOF e outras promessas não cumpridas mostram que o governo carece de um plano robusto.
“Se não sair emenda, não tem apoio. Isso resume bem o momento. A lógica é partidária, não nacional. E isso, em algum momento, vaza para a população”, alertou.
Com a credibilidade econômica enfraquecida e sem uma pauta clara de entregas, Daoud avalia que a deterioração da confiança tende a se intensificar nos próximos meses.