Apesar da celebração do governo com o superávit primário de abril e o crescimento do PIB no primeiro trimestre, os dados revelam uma realidade menos otimista, segundo o sócio do Acqua Vero, Bruno Musa. Para ele, o resultado positivo nas contas públicas do Brasil é consequência de um represamento de gastos e não de responsabilidade fiscal genuína.
“O orçamento de 2025 só foi aprovado em abril. O governo arrecadou mais, mas não pôde gastar. Foi isso que gerou o superávit. Não é mérito de controle fiscal, é um efeito temporário e artificial”, aponta Musa. Quando se consideram os juros da dívida, o resultado primário positivo se transforma em um déficit de R$ 55,5 bilhões no mesmo mês.
Moody’s corta perspectiva para o Brasil e escancara o risco fiscal
Na semana passada, a agência Moody’s revisou a perspectiva da nota de crédito do Brasil de positiva para negativa, citando o aumento da dívida pública e a incapacidade do país de estabilizá-la no curto prazo.
De acordo com a Moody’s, a dívida bruta deve atingir cerca de 88% do PIB até 2030 — bem acima da média dos países emergentes, que gira em torno de 73%. O pagamento de juros deve consumir até 21% das receitas em 2025, contra 15% em 2023.
“A Moody’s agora reconhece o que já vínhamos alertando: a dívida cresce de forma insustentável, e não há plano crível de reversão”, afirma Musa.
Orçamento do Brasil engessado e sem espaço para investimento
O relatório de gastos do governo mostra que mais de 90% do orçamento está comprometido com despesas obrigatórias, como aposentadorias, auxílios e salários do funcionalismo. Dos R$ 2,3 trilhões do orçamento, restam menos de R$ 50 bilhões para investimentos.
“É um absurdo. Não há espaço para cortar gastos sem enfrentar o debate sobre a estrutura do Estado. E o governo continua gastando mais, criando fundos paralelos e usando artifícios para esconder o real tamanho do problema”, critica o economista.
Crescimento puxado pelo agro esconde fraqueza econômica
O crescimento de 1,4% do PIB no primeiro trimestre de 2025 veio quase exclusivamente do agronegócio, que cresceu 12,2%. Já os serviços, que representam 70% da economia, cresceram apenas 0,3%.
“O agro, frequentemente atacado por setores do próprio governo, salvou o número do PIB. Mas isso não representa uma recuperação ampla. É um crescimento setorial que mascara o desempenho fraco dos demais setores”, afirma Musa.
O caminho é conhecimento, não manchete
Para Bruno Musa, o principal risco para o cidadão é acreditar nas manchetes sem entender os dados por trás delas. “As manchetes vendem otimismo, mas os fundamentos continuam se deteriorando. Se não enfrentarmos reformas estruturais de verdade, a moeda seguirá se desvalorizando e o poder de compra da população continuará sendo corroído”, alerta.