O recente caso das Americanas desencadeou uma onda de reflexões e mudanças no cenário de governança corporativa no Brasil. “Infelizmente, aspectos de governança, proteção e gestão de riscos só ganham a devida atenção quando algo dá errado”, afirmou Fabio Coelho, presidente da AMEC em entrevista ao Mercado and Beyond na BM&C News. A crise, embora negativa, abriu portas para avanços institucionais que podem fortalecer a governança em empresas brasileiras.
A crise das Americanas destacou a importância de reforçar mecanismos como comitês de auditoria, conselhos de administração e auditorias externas. “O caso trouxe à tona a necessidade de valorizar a independência de conselheiros e representantes de comitês de auditoria”, enfatizou Coelho. Essas questões não são exclusivas do Brasil, sendo observadas globalmente em momentos de crise.
Mercado de Ações Versus Mercado de Crédito
A governança no mercado de ações brasileiro já vinha evoluindo, especialmente após a criação do Novo Mercado em 2000. Este segmento de listagem exige compromissos de governança das empresas que se destacam na bolsa de valores, um movimento que trouxe avanços significativos. “Quase 25 anos depois, o Novo Mercado representa um avanço institucional enorme”, comentou o presidente da AMEC.
Em contraste, o mercado de crédito privado, que ganhou relevância nos últimos anos, ainda carece de uma regulação robusta e práticas de mercado mais estabelecidas. O entrevistado destacou que “há uma avenida aberta para propostas que melhorem o mercado de crédito”, sinalizando a necessidade urgente de reformas para aumentar a transparência e reduzir riscos jurídicos para os investidores.
Crescimento do Mercado de Crédito e Seus Desafios
O crescimento do mercado de crédito privado no Brasil, impulsionado especialmente a partir de 2019, trouxe à tona novos desafios. Casos como os das Americanas e da Light evidenciaram a fragilidade do mercado de dívida, que ainda não possui balizas regulatórias tão definidas quanto o mercado de ações. “A MEC identificou muitas questões relacionadas a securitizadoras, agentes fiduciários e a maneira como são remunerados”, observou Coelho, reforçando a necessidade de melhorias.
Essa expansão do mercado de crédito exige não apenas novas regulamentações, mas também práticas de mercado que assegurem a confiança dos investidores. O Fabio Coelho enfatizou ainda que, no mercado de crédito, “o risco jurídico pode variar significativamente dependendo das cláusulas específicas de cada operação”.
Propostas para Melhorar a Governança no Mercado de Crédito
O mercado de crédito privado no Brasil ainda enfrenta muitos desafios de governança, e a necessidade de propostas concretas é clara. Segundo análise do presidente da AMEC, “a MEC está focada em contribuir com propostas que venham dos principais players do mercado para melhorar esse cenário”. O objetivo é criar um ambiente mais seguro e transparente para investidores, especialmente em um contexto de taxas de juros elevadas que torna o crédito privado cada vez mais atrativo.
A reflexão e análise da crise das Americanas e seus desdobramentos no mercado brasileiro mostram como momentos de dificuldade podem servir como catalisadores para mudanças necessárias. Ao mesmo tempo, destacam a importância de uma governança corporativa robusta para evitar futuros escândalos e proteger os interesses dos investidores.