Na noite desta quinta-feira, o professor Marcos Vinícius de Freitas, especialista em Relações Internacionais, participou de uma entrevista para discutir o recente aumento de tensões entre China e Estados Unidos. A conversa foi conduzida por Felipe Nascimento, que destacou a imposição de novas sanções americanas contra países que mantêm relações com a Rússia, incluindo várias companhias chinesas. Em resposta, a China prometeu retaliações.
Durante a entrevista, o professor Freitas contextualizou a situação no cenário da guerra na Ucrânia, ressaltando que a esperada grande contraofensiva ucraniana não se concretizou como previsto, e os atrasos no apoio econômico dos EUA à Ucrânia evidenciam que a situação é complexa. Ele destacou que a militarização contínua da Ucrânia mostra que o país não está ganhando a guerra e que a OTAN, liderada pelos EUA, pode enfrentar uma humilhação neste processo.
Freitas apontou que os EUA utilizam uma narrativa para criar medo entre os europeus sobre uma possível agressão russa ao continente. No entanto, a OTAN não teria capacidade de impedir tal ação, o que enfraquece sua posição. Ele também mencionou que a Rússia conseguiu resistir às sanções e crescer economicamente, graças à aliança com a China. O governo chinês tem afirmado que não deseja expandir a guerra e não fornece diretamente equipamentos militares à Rússia, mas o comércio bilateral continua.
As sanções dos EUA contra empresas chinesas fazem parte de uma estratégia para retratar a China como um adversário global. Freitas explicou que sanções tendem a funcionar em países menores, mas têm pouco impacto em grandes economias como a China e a Rússia. Ele citou Cuba como exemplo de um país que resistiu a décadas de sanções. As sanções atuais podem prejudicar mais os países que compram produtos sancionados do que aqueles que vendem.
Ao ser questionado sobre o impacto dessas sanções em países menores, Freitas afirmou que esses países podem ser indiretamente prejudicados por seu relacionamento econômico com empresas sancionadas. Ele também observou que a Europa tem sido uma das regiões mais afetadas pelas sanções contra a Rússia, enfrentando aumentos nos preços de energia e combustíveis, o que levou a uma inflação elevada e empobrecimento econômico.
Freitas concluiu que o sul global vê as sanções como uma imposição injusta e uma tentativa de impedir seu desenvolvimento. Ele criticou a narrativa belicosa que prejudica o crescimento econômico global e destacou a deterioração da imagem dos EUA devido a suas políticas de sanções. O professor acredita que o sul global já tomou sua decisão de não se envolver nessa disputa entre grandes potências e vê a guerra na Ucrânia como um conflito europeu que não deve afetar seu desenvolvimento.
A análise do professor Freitas sugere que as sanções e a narrativa de confronto dos EUA podem estar levando a um realinhamento global, com o sul global buscando alternativas para continuar seu crescimento econômico em meio às tensões entre as grandes potências.
