O mês de agosto foi marcado por acontecimentos que mexeram com o mercado financeiro brasileiro e internacional, desde a disputa comercial acirrada com os Estados Unidos até as expectativas sobre política monetária no Brasil e no exterior.
Apesar das incertezas fiscais e externas, o Ibovespa encerrou agosto em patamar recorde. Para Marcelo Giorgi, analista de investimentos na WIN Invest, a performance foi sustentada por fatores como a deflação no IPCA, ainda que impactada pelo bônus de Itaipu, e pela perspectiva de corte de juros nos EUA, que melhorou a percepção de risco do mercado brasileiro. “Embora ainda em patamar elevado, o fluxo cambial positivo, já antecipando de alguma forma a queda de juros nos EUA, e a prorrogação do acordo EUA x China sobre as tarifas nos parece fatores preponderantes para a melhora na percepção do mercado”, explica.
Entre os setores que se destacaram positivamente, ele aponta os bancos, especialmente a recuperação do Banco do Brasil após resultados ruins. O setor de alimentos também performou bem, com Marfrig e JBS, além de mineração e energia, que ficaram de fora das maiores alíquotas tarifárias. Já o petróleo foi destaque negativo, com Petrobras impactada pela alta da produção mundial e Prio prejudicada por uma decisão judicial que interrompeu atividades no campo de Peregrino.
Tarifaço e negociações internacionais
O chamado “tarifaço” imposto pelos EUA a diversos países, inclusive ao Brasil, foi o fator mais marcante do mês. Giorgi destacou, no entanto, que houve um ponto positivo: a prorrogação das negociações entre os EUA e parceiros estratégicos como União Europeia e China. Esse movimento adiou a implementação de novas alíquotas e deu fôlego temporário às relações comerciais.
No cenário interno, Giorgi ressalta que a queda nas exportações brasileiras pode trazer efeitos mistos: “Por um lado, o abastecimento interno tende a ajudar a conter a inflação. Por outro, o mercado de trabalho, a arrecadação e a balança comercial podem ser prejudicados, o que pode forçar o governo a adotar medidas compensatórias que nem sempre são populares”, analisa.
Expectativas para setembro
O mercado financeiro aguarda a chamada “super quarta” de setembro com foco na reunião do Copom e na decisão do Federal Reserve (Fed) nos EUA. Para Giorgi, o cenário interno não deve trazer surpresas: “A expectativa é de manutenção da taxa Selic em 15% ao ano. A inflação, mesmo estabilizada, ainda roda acima do teto da meta, o que não permite ações mais arrojadas do Comitê.”
Ele pondera, no entanto, que uma eventual redução dos juros americanos pode atrair fluxo de capital estrangeiro ao Brasil, beneficiando tanto a renda fixa com juros altos quanto o mercado de ações, sobretudo em papéis descontados em relação a seus valores patrimoniais.
Para o analista, setembro tende a repetir parte do enredo de agosto, com tensões geopolíticas e efeitos das tarifas americanas no comércio global. No entanto, o grande evento a ser monitorado será a decisão do Fed. “Mais do que o número em si, o comunicado ao mercado terá peso maior sobre a direção dos investimentos”, afirma Giorgi.
Já no Brasil, a reunião do Copom deve reforçar a leitura de estabilidade na política monetária, mantendo o foco no controle da inflação. Com isso, investidores seguirão atentos ao cenário fiscal, ao comportamento da balança comercial e às movimentações externas, em busca de oportunidades em um ambiente ainda desafiador.
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