O Boletim Focus divulgado nesta segunda-feira (25) pelo Banco Central trouxe mudanças relevantes nas expectativas do mercado. Boa parte dos indicadores, que vinham em estabilidade, apresentou revisões em relação à semana passada. A expectativa para o IPCA de 2025 caiu para 4,86%, refletindo maior confiança em uma trajetória de desaceleração, acompanhada por uma ligeira queda nas projeções para preços administrados.
Segundo o economista Maykon Douglas, o movimento reforça a percepção de que a desinflação segue em curso, embora ainda de forma lenta em alguns componentes sensíveis à demanda. “O IPCA-15 de agosto deve apresentar uma deflação de cerca de 0,2%, causada pelo impacto pontual do Bônus de Itaipu. A leitura desta semana deve vir comportada, reforçando a inflexão na trajetória inflacionária nos últimos meses”, avaliou.
Selic: corte ainda é prematuro, diz economista
A taxa Selic permanece com projeção estável em 15% ao ano para 2025, segundo o Focus. Apesar da melhora nos números da inflação, Maykon Douglas alerta que ainda não há espaço para discutir cortes neste ano. “A discussão sobre um eventual corte da Selic em 2025 é bastante prematura ao meu ver, dada a desancoragem das expectativas e a lenta desinflação em itens sensíveis à demanda”, destacou.
O cenário reforça que a condução da política monetária seguirá dependente dos próximos dados de inflação e atividade, especialmente diante de um ambiente externo de maior cautela e volatilidade.
PIB perde força e cai para abaixo de 2,2%
No campo da atividade, a mediana das projeções para o PIB de 2025 recuou para 2,18%, abaixo do patamar de 2,2% pela primeira vez desde meados de junho. A queda reflete os últimos indicadores econômicos, que mostraram perda mais acentuada em setores dependentes de crédito e consumo.
Apesar do recuo, Maykon Douglas mantém sua previsão em 2,2% para o ano. “Reitero a minha previsão de 2,2% para o PIB deste ano, que tenho mantido há alguns meses, apesar dessa moderação mais evidente da atividade doméstica”, afirmou.
Consumo pode ganhar fôlego no curto prazo
Na avaliação do economista, algumas medidas recentes devem trazer alívio para a demanda interna nos próximos meses. Entre elas, ele cita o novo modelo de consignado privado e o pagamento de precatórios pelo governo, que devem impulsionar o consumo das famílias em um momento de atividade mais moderada.
O Focus também trouxe ajustes no setor externo e nas contas públicas, mas a atenção do mercado permanece concentrada no binômio inflação e atividade. A trajetória de desaceleração dos preços, combinada com uma perda de fôlego no PIB, deve continuar sendo o principal termômetro para as apostas dos investidores.
Resumo do Focus
- Inflação (IPCA 2025): caiu para 4,86%, abaixo de 4,9% pela primeira vez em semanas.
- Preços administrados: recuaram levemente, após sequência de altas.
- IPCA-15 (ago): esperado em -0,20%, impactado pelo Bônus de Itaipu.
- PIB 2025: projeção caiu para 2,18%, menor nível desde junho.
- Previsão de Maykon Douglas: mantém projeção em 2,2% para o PIB do ano.
- Selic 2025: segue em 15%, sem espaço para cortes no curto prazo.
- Consumo interno: deve ganhar fôlego com consignado privado e pagamento de precatórios.
- Setor externo: déficit em conta corrente projetado em US$ 65 bi; superávit comercial em US$ 65 bi.
- Fiscal: dívida líquida deve fechar 2025 em 65,8% do PIB.
