O recente debate sobre o arcabouço fiscal brasileiro, instaurado pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva, trouxe à tona diversas questões sobre a sustentabilidade das contas públicas no país, afetando inclusive o INSS (Instituto Nacional do Seguro Social. A substituição do antigo teto de gastos pela Lei Complementar nº 200/2023 despertou tanto interesse do meio político quanto do mercado financeiro, dada a sua importância para a trajetória fiscal do Brasil nos próximos anos.
A nova regra, que determina que os gastos públicos devem crescer até 70% da evolução das receitas do ano anterior, surge em um momento crucial, visando maior flexibilidade e adaptabilidade das finanças públicas às variáveis econômicas. Contudo, com despesas obrigatórias correspondendo a cerca de 91% do orçamento de 2024, o desafio de manter um equilíbrio fiscal torna-se ainda mais evidente.
Como funciona a nova regra de despesas públicas?

De acordo com a Lei Complementar nº 200/2023, a expansão dos gastos do governo está diretamente ligada ao desempenho das receitas, com um limite de crescimento real de 0,6% a 2,5% por ano. Isso significa uma abordagem mais dinâmica e responsiva, permitindo uma certa expansão das despesas em períodos de alta arrecadação, mas impondo restrições adicionais caso o resultado primário fique abaixo de um determinado patamar.
Despesas obrigatórias e o INSS
Apesar da flexibilidade trazida pela nova legislação, as despesas obrigatórias, sobretudo as previdenciárias, colocam uma pressão constante sobre o orçamento. O governo já projetou que medidas de eficiência, como o uso de tecnologia na análise de benefícios temporários pelo INSS, podem trazer economias significativas. Estima-se uma redução de custos na ordem de R$ 10,9 bilhões apenas com revisões no INSS em 2024.
Perspectivas futuras
Ainda assim, a necessidade de um debate estrutural sobre as despesas obrigatórias e seus impactos no orçamento a longo prazo é inevitável. A questão dos pisos constitucionais para educação e saúde, por exemplo, impõe um crescimento automático dessas despesas, o que pode limitar a capacidade do governo de investir em outras áreas. Mudanças nessa estrutura demandariam discussões amplas no Congresso Nacional, além de enfrentar resistências políticas e sociais.
Enquanto o “spending review” (revisão de gastos) se mostra como uma ferramenta valiosa para alocar recursos de maneira mais eficiente, sua implementação precisa ser acompanhada de uma visão de longo prazo, que considere o tamanho e a rigidez das despesas obrigatórias.
Em suma, o diálogo entre governo, legislativo e sociedade se faz necessário para enfrentar os desafios impostos pelo novo marco fiscal. A criação de um ambiente econômico sustentável passa, inevitavelmente, por ajustes e discussões que vão além das medidas pontuais, exigindo uma visão estratégica e comprometida com o equilíbrio das contas públicas e o desenvolvimento do Brasil.
- Entendimento da nova regra fiscal e suas implicações.
- Debate sobre as despesas obrigatórias e sua sustentabilidade.
- Importância da revisão contínua de gastos.
- Diálogo necessário entre governo, legislativo e sociedade.
O futuro da política fiscal do Brasil está, portanto, atrelado à capacidade de adaptar-se a um cenário econômico em constante mudança, ao mesmo tempo em que garante a responsabilidade com as contas públicas.