O novo Boletim Focus do Banco Central reforça um cenário de estabilidade macroeconômica com sinais de alívio no IPCA, mas sem espaço para otimismo exagerado. As projeções indicam inflação de 4,70% para 2025 e 4,27% para 2026, enquanto o PIB deve crescer 2,17% no próximo ano. A Selic permanece estimada em 15%, refletindo a postura cautelosa da autoridade monetária diante das incertezas fiscais e do ambiente global. Embora a desinflação avance de forma gradual, o mercado mantém os olhos voltados para a trajetória das contas públicas e para os impactos das tensões internacionais no câmbio e nas commodities.
Segundo Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos, o dado mostra que o país vive uma transição controlada. “O Focus sinaliza uma economia em transição, já que o pior da inflação parece ter ficado para trás, mas o fiscal e o cenário externo seguem como variáveis críticas para os próximos meses”, avalia. Para o especialista, o equilíbrio entre inflação em queda e juros elevados mantém o ambiente de investimento mais técnico e seletivo, com ênfase em governança e eficiência operacional.
Empresas focam em eficiência e gestão de caixa
Para o Jorge Kotz, CEO da Holding Grupo X, os dados do Focus apontam para um ambiente mais previsível, mas que exige disciplina das companhias. “A inflação recua e o PIB avança ligeiramente, o que indica resiliência, porém o crédito continua caro e o consumo moderado. O país vive um momento de estabilidade sem aceleração, e o que separa quem sobrevive de quem cresce é a capacidade de planejar, inovar e manter a cultura voltada à produtividade”, destaca.
Nessa mesma linha, Richard Ionescu, CEO do Grupo IOX, reforça que o momento exige preparação estratégica. “O Focus mostra uma economia mais previsível, mas ainda longe de um ciclo de expansão. A palavra-chave é preparo: o momento não é de euforia, é de estratégia. As empresas que ajustarem sua estrutura de dívida e reforçarem governança terão vantagem competitiva quando a curva começar a ceder.”
Investimentos estruturados e crédito privado em destaque
Para Pedro Da Matta, CEO da Audax Capital, o atual equilíbrio macroeconômico mantém o crédito estruturado no centro das atenções. “A inflação segue em queda, o PIB mostra leve avanço e a Selic continua elevada, desenhando um cenário de estabilidade com prudência. Esse equilíbrio mantém o crédito estruturado como protagonista, oferecendo rendimento real expressivo em um ambiente de seletividade. A liquidez existe, mas busca estruturas sólidas, governança e transparência”, afirma.
O mesmo diagnóstico é compartilhado por Gustavo Assis, CEO da Asset Bank, para quem o ambiente reforça o protagonismo dos FIDCs. “O novo Focus sinaliza uma desinflação consistente e um câmbio estável em torno de R$ 5,45, enquanto a Selic se mantém em 15%. Esse cenário confirma o protagonismo do crédito estruturado e dos FIDCs como ferramentas de conexão entre empresas e investidores. A previsibilidade macroeconômica ajuda a precificar risco com mais clareza, e isso reforça a seletividade do mercado: operações com lastro robusto e governança passam a ser prioridade.”
Fiscal e cenário externo voltam ao radar
O risco fiscal voltou ao centro das discussões, especialmente diante da percepção de que a política monetária deve permanecer restritiva por mais tempo. Volnei Eyng, CEO da Multiplike, observa que “o Focus mostra um quadro mais equilibrado, mas dependente da confiança dos agentes. O Banco Central deve manter a cautela enquanto a trajetória fiscal e inflacionária não estiverem completamente ancoradas”.
Para Pedro Ros, CEO da Referência Capital, a mensagem é de transição cautelosa. “O Focus reforça que o Brasil entra em uma fase marcada por menor pressão inflacionária, mas ainda com restrições fiscais e um ambiente global incerto. Esse equilíbrio favorece investidores que unem planejamento e visão de longo prazo, especialmente em real assets, que seguem entregando rentabilidade acima da renda fixa e proteção patrimonial.”
Mercado projeta estabilidade até 2026
A leitura de mercado indica que o Brasil entrou em uma fase de “crescimento moderado e previsível”. André Matos, CEO da MA7 Negócios, resume: “Os custos de financiamento continuam elevados, o crédito não será barato, e empresas com dívidas devem manter cautela. O desafio é operar com disciplina até que as expectativas de inflação, juros e crescimento comecem a se mover de fato.”
Já João Kepler, CEO da Equity Group, acrescenta que “o pior da inflação parece ter ficado para trás, mas o fiscal e o cenário externo seguem como variáveis sensíveis. O momento pede disciplina e foco em execução, não euforia. Empresas com boa governança e líderes estratégicos vão se destacar nesse ciclo.”
Investidor deve usar o juro alto a favor
Por fim, Fábio Murad, CEO da Spacemoney Investimentos, alerta que o cenário de juros elevados ainda oferece oportunidades. “O investidor deve interpretar esse momento como uma oportunidade de acumulação, usar o juro alto a favor, em vez de esperar pelo corte. A renda fixa continua sendo um dos pilares do portfólio, e os ETFs surgem como o instrumento mais eficiente para acessar esses ganhos sem abrir mão da diversificação.”
O consenso entre os analistas é que o Brasil vive um ciclo de normalização gradual: a inflação cede, o câmbio se estabiliza e o crescimento avança em ritmo contido. Mas, até que o cenário fiscal e externo ofereçam maior previsibilidade, a palavra de ordem permanece a mesma — prudência.