O Painel BM&C desta semana partiu de uma premissa clara: as eleições 2026 já começaram, mas o que está em disputa não é apenas quem estará na urna e sim como o país será conduzido. Para os comentaristas, o cenário envolve um governo Lula tentando consolidar sua base, um bolsonarismo sem o próprio Bolsonaro na disputa, e uma terceira via que ainda não conseguiu se materializar.
O pano de fundo é conhecido: endividamento crescente, instabilidade nas regras, atritos entre Poderes e um eleitorado polarizado.
Eleições 2026: o centrão como eixo do jogo político
Bruno Musa destacou que Bolsonaro segue como detentor de uma fatia significativa do eleitorado, o que explica a escolha de Flávio Bolsonaro como pré-candidato.
Isso foi um recado claro: “atrair esses votos tem um custo, e ele não é barato”.
“Isso foi um recado claro: “atrair esses votos tem um custo, e ele não é barato. A normalização da lógica do centrão, não se move por ideologia, mas por acesso ao orçamento. Esse arranjo, faz com que “o sistema” pese mais do que a vontade do eleitor”, avalia Bruno Musa.
Miguel Daoud concordou e lembrou que muitos parlamentares foram eleitos “na esteira” do bolsonarismo, o que explica a dificuldade do centrão em romper com essa base. Na sua visão, a divisão da direita favorece Lula, que volta ao ambiente de polarização no qual sempre navegou bem.
Mercado financeiro e o risco político das eleições 2026
A reação do mercado à pré-candidatura de Flávio Bolsonaro, com dólar subindo, bolsa caindo e juros futuros abrindo, foi interpretada por Musa como um movimento mais ligado ao temor de reeleição de Lula do que ao nome de Flávio em si.
“O ambiente de negócios está hostil, o mercado teme um governo sem compromisso com responsabilidade fiscal. A continuidade desse governo poderia gerar fuga de capitais e até medidas como aumento de IOF para segurar recursos no país”, destaca Musa.
Falcão complementou dizendo que o setor produtivo busca previsibilidade e segurança fiscal, fatores que ainda não enxergam de forma clara no cenário atual.
STF e regras do jogo: um fator decisivo para 2026
Paula Moraes conduziu um dos pontos mais sensíveis do painel: o papel do Judiciário nas últimas eleições. Daoud acredita que o STF já fez os movimentos que pretendia fazer e que não deve interferir de forma decisiva em 2026.
Musa discordou. Ele criticou decisões monocráticas que, segundo ele, “alteram regras do jogo” sem debate público, citando desde mudanças em leis antigas até decisões tributárias.
Para Musa, a combinação de um Judiciário forte e um Parlamento eleito majoritariamente por coeficiente eleitoral reduz a representatividade do voto individual.
O valor do voto e a crescente descrença do eleitor
Ao discutir o peso do voto nas eleições 2026, Daoud foi direto: o voto individual vale pouco isoladamente, mas grupos organizados fazem diferença.
“O problema é que parte significativa do eleitor vota sem conhecer projetos, estrutura do Estado ou funcionamento do Congresso“, afirmou Daoud.
Aluizio Falcão chamou atenção para outro ponto: 30% dos eleitores se abstêm, anulam ou votam em branco. Esse contingente pode definir 2026, especialmente em uma eleição marcada por rejeição elevada.
Musa trouxe um alerta baseado em sua experiência na Venezuela: a resignação política. Segundo ele, cresce no Brasil a sensação de que “nada muda”, o que pode aumentar a abstenção e reduzir a confiança no sistema democrático.
Segurança pública, assistencialismo e limites da narrativa
O Painel BM&C destacou que segurança pública deve ganhar força nas eleições 2026. Musa relatou episódios de violência cotidiana que afetam principalmente a população mais pobre, público que, teoricamente, seria mais fiel ao governo.
Esse tema, combinado à percepção de que programas sociais já atingiram seu limite de eficácia eleitoral, pode reconfigurar parte do voto popular. Falcão questionou se a narrativa de “ricos contra pobres” e a ampliação de benefícios ainda têm força para expandir a base de Lula.
O que deve decidir as eleições 2026: emoção, rejeição ou projeto?
Ao final, Paula Moraes perguntou o que definirá as eleições 2026. Daoud respondeu sem hesitar: emoção e rejeição. Para ele, projetos importam pouco diante de uma disputa tão polarizada.
Falcão avaliou que a direita precisa melhorar sua capacidade de construir narrativas, hoje dominadas pela esquerda. Musa concordou: o voto é emocional, não racional e quem dominar essa linguagem terá vantagem.
O Painel BM&C mostrou que as eleições 2026 serão menos sobre candidatos e mais sobre forças estruturais: centrão, STF, volatilidade econômica, narrativa digital, rejeição e cansaço do eleitor. A disputa está aberta e, até aqui, marcada por incerteza, tanto do sistema quanto das ruas.

