A conjuntura econômica e política do Brasil em 2025 é o tema da discussão que recebeu o empresário e investidor Otávio Fakhoury. Em entrevista ao BM&C Talks, ele afirmou que o país vem sustentando o crescimento com endividamento e expansão de gastos públicos, em um cenário de juros de dois dígitos e confiança limitada na política fiscal.
Fakhoury lembrou que, nas últimas três décadas, o Brasil perdeu peso industrial e passou a depender principalmente de agronegócio, serviços e gasto do governo para compor o PIB. Ao mesmo tempo, a máquina pública cresceu sem que houvesse, de fato, um controle estrutural das despesas.
Da bonança das commodities ao nó fiscal nunca desfeito: a conjuntura em evidência
Ao comparar o momento atual com a crise de 2015–2016, Fakhoury destacou que o país surfou, por muitos anos, a onda das commodities em alta e do forte superávit externo. Esse período permitiu pagar a dívida com o FMI, recomprar títulos no exterior e conviver com aumento de gastos sem explosão imediata dos juros.
Quando o preço do minério de ferro e o ambiente global mudaram, o choque veio em forma de recessão, queda de atividade e deterioração fiscal. Reformas aprovadas após o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff ajudaram a reorganizar parcialmente a economia, mas, segundo Fakhoury, o problema central permaneceu:
“Nenhum governo resolveu o tema do gasto público. A pandemia só ampliou o tamanho da conta e recolocou a dívida em trajetória de alta”, avaliou.
Dívida alta, juros em dois dígitos e prêmio de risco elevado
Hoje, o país convive em uma conjuntura com dívida pública caminhando para 85%–90% do PIB e taxa básica em patamar elevado. Na avaliação de Fakhoury, a taxa de juros de longo prazo, em torno de dois dígitos, reflete o prêmio de risco exigido pelo mercado diante da percepção de que o governo privilegia aumento de arrecadação, e não controle de gastos.
Ele vê, no horizonte, três riscos principais:
pressão por soluções inflacionárias para reduzir o peso real da dívida;
questionamentos à autonomia do Banco Central;
ou necessidade de um ajuste duro, com medidas impopulares, logo após as eleições de 2026.
Eleições de 2026, “trade Tarcísio” e o cálculo da Faria Lima
A política entra diretamente nessa equação. Fakhoury avalia que parte da melhora recente de alguns ativos brasileiros está ligada à aposta do mercado em mudança de governo em 2026, com a construção de um candidato de centro-direita percebido como mais austero – com destaque para o nome do governador Tarcísio de Freitas.
Ao mesmo tempo, ele lembra que o presidente Lula segue competitivo e com a máquina na mão, o que tende a resultar em expansão de gastos e benefícios em ano eleitoral, aumentando a incerteza sobre a trajetória fiscal.
Na leitura de Fakhoury, o Centrão observa essa dinâmica não apenas sob a ótica de cargos e emendas, mas também da preservação do próprio poder político. Se perceber risco de concentração excessiva de poder no Executivo, poderia repetir o movimento de afastamento visto no final do governo Dilma.
Sistema financeiro: do caso Master ao risco de subprime à brasileira
Fakhoury também chamou atenção para a conjuntura do sistema financeiro, citando o caso do Banco Master como exemplo de fragilidade relevante. A intervenção na instituição consumiu uma parcela significativa dos recursos do Fundo Garantidor de Créditos (FGC) e, para ele, mostrou os limites de um modelo que empurra o risco adiante até o ponto de ruptura.
Ele afirmou não acreditar em “incompetência” do regulador e lembrou que o Banco Central acompanha, em tempo quase real, as posições dos bancos. Na visão do empresário, houve interesses cruzados e conivência em torno da expansão de produtos ligados ao banco até o desfecho da liquidação.
Além disso, Fakhoury alertou para o avanço de recursos de origem criminosa, como os associados ao PCC, em setores formais da economia, inclusive no mercado financeiro, o que ele considera apenas “a ponta do iceberg”.
Outro ponto de preocupação é a inadimplência em alta no agro, no varejo e entre as famílias, em um país que se acostumou a consumir com crédito e tem taxa de poupança baixa. Como parte desse risco é securitizada e revendida via fundos e estruturas fora do balanço dos grandes bancos, ele vê elementos que lembram uma crise subprime, com risco pulverizado no chamado shadow banking.
Ajuste depois de 2026: escolha difícil, mas inevitável
O diagnóstico final de Fakhoury é que, qualquer que seja o vencedor de 2026, o próximo governo terá de enfrentar a questão fiscal de maneira frontal e logo no início do mandato. Medidas impopulares, como redução de benefícios, freio em subsídios e revisão de despesas, tendem a ser o preço para evitar uma crise mais aguda à frente.
Na comparação com a Argentina de Javier Milei, ele destaca que o Brasil não vive, hoje, um trauma econômico equivalente, o que torna politicamente mais difícil explicar a necessidade de um ajuste. Mas, se nada mudar na conjuntura de dívida alta, juros elevados, crédito fragilizado e incerteza política, a conta tende a chegar.












