Estudo divulgado ontem pelo Instituto Paraná Pesquisas mostra que, apesar da recente recuperação em sua imagem, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva continua com um índice de reprovação maior que o de aprovação: 49,2% contra 47,9%. Trata-se de uma melhora significativa quando comparamos esses números com os observados em agosto. Naquele mês, Lula era reprovado por 57,4% dos entrevistados, enquanto apenas 39,2% o aprovavam.
Esses índices, somados aos registrados em outra pesquisa do Paraná, publicada na segunda-feira, trouxeram grande otimismo às hordas petistas. Em enquete sobre as intenções de voto do eleitorado em 2026, Lula lidera todos os cenários propostos pelos pesquisadores, derrotando todos os opositores.
Mesmo assim, há fortes indícios de que a disputa continua totalmente aberta.
Como assim?
Em primeiro lugar, Lula ainda não possui resultados de aprovação suficientes para se tornar o preferido pela maioria dos eleitores. Ele está em processo de recuperação, é verdade, e conseguiu se recuperar diante de um quadro que parecia ser irreversível. Mais ainda é reprovado pela maioria dos brasileiros e, curiosamente, isso se reflete nas pesquisas que apontam tendências para 2026.
Mas Lula não está liderando essas enquetes? Sim, está. Mas vamos nos aprofundar nos números, escolhendo aleatoriamente um dos cenários tratados pelo Paraná. Tomemos como exemplo a simulação na qual o nome do ex-presidente Jair Bolsonaro (inelegível pelo Tribunal Superior Eleitoral) é colocado na cédula. Neste caso, o presidente possui 37% das intenções de voto contra 31% do ex-presidente.
Isso significaria que as chances da oposição estão acabadas? Não necessariamente. Vamos continuar analisando o placar estabelecido pelo Paraná Pesquisas. Atrás de Bolsonaro, viriam o ex-governador do Ceará, Ciro Gomes, com 7,5%; o governador do Paraná, Ratinho Jr., com 6%, o governador de Minas Gerais, Romeu Zema, com 4,7%; e o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, com 3,2%.
Se somarmos todos aqueles que concorreriam contra Lula, teríamos 52,4%. Mas muitos poderiam argumentar que parte do eleitorado de Ciro Gomes é de esquerda. Sim, isso é verdade. Vamos, então, colocar todos as intenções de votos do ex-governador cearense no mesmo balaio que o de Lula (não é bem assim que a coisa funciona, mas tudo bem). Neste caso, o placar seria de esquerda com 44,5% contra 44,9% do centro somado com a direita. O que poderia decidir o pleito, portanto, seriam os eleitores de Ciro Gomes. Caso migrem maciçamente para Lula, as chances de o PT se manter no poder aumentam. Caso contrário, diminuem consideravelmente.
Aqui está o xis da questão.
O cenário de 2026, embora hoje pareça favorável ao presidente, não é uma fatura liquidada. A liderança nas pesquisas é real, mas ainda não está consolidada. Lula ainda caminha sobre uma corda bamba, sustentado por uma base que está em recomposição, mas ainda não se consolidou. A oposição, por sua vez, mesmo fragmentada, soma forças que, se bem articuladas, podem virar o jogo em um segundo turno.
Tudo dependerá de movimentos estratégicos e de como o eleitorado de centro e centro-esquerda se comportará diante das opções que se apresentarem. Ciro Gomes, com seu eleitorado híbrido, pode ser o fiel da balança. E, como já vimos em eleições passadas, o Brasil é mestre em produzir viradas improváveis.
Portanto, apesar do otimismo petista e da aparente vantagem lulista, a disputa em 2026 será duríssima. E como acontece em todo bom jogo político, só será decidido nos acréscimos. Até lá, cada ponto percentual será disputado como ouro. E quem subestimar o poder de rearranjo do eleitor brasileiro corre o risco de ser surpreendido — mais uma vez.